Inês Carreira 08/11/2018
Crítica: 'A Conjura' de José Eduardo Agualusa
'A Conjura’, pela mão da pena estreante de José Eduardo Agualusa, conduz-nos com maestria ao longo do caminho turbulento das estórias e da História de Angola, em finais do século XIX e inícios do século XXI. Personagens oriundas de uma ascendente burguesia mestiça compõem o núcleo central do enredo, que se constrói num encadeamento de acontecimentos interligados e temperados pelo misticismo popular do encontro das culturas europeia e africana.
O autor pincela a narrativa de paixões, traições, fraternidades e desejos de liberdade, para sublimemente nos dar conta do passado do seu país, que bem antes de se tornar independente de Portugal, deu lugar a um plano perfeito de conquista pela tão desejada autonomia. Estamos ainda em 1880 e de repente vemo-nos misteriosamente envolvidos por essa Luanda fantástica de brancos degredados, uma elite europeia exploradora, trabalhadores negros, índigenas nativos revoltados e uma burguesia mestiça ascendente, que protagonizará 31 anos de conjura contra a exploração da coroa portuguesa.
Agualusa faz-nos um retrato preciso do período que antecedeu imediatamente a Conferência de Berlim e se estendeu até 1911, logo após a proclamação da república em Portugal, cenário que motivou o crescente descontentamento dos angolanos para com a soberania do país europeu colonizador, a par da simpatia pelos ideais republicanos que se impunham cada vez mais no mundo moderno.
Apesar do ambiente com vocação cinematográfica, talvez a abundância de personagens com pequenas aparições e tantos nomes compostos dificulte ao leitor acompanhar a narrativa com pormenor. Ainda assim, trata-se aqui de uma obra prima da literatura contemporânea, que envolve, seduz e enriquece o conhecimento de quem se disponha a viajar por suas páginas.