ana :) 30/05/2022
Eu tinha escrito um resumo de cada conto, mas deu um total de 12 páginas, então aqui irei colocar apenas alguns trechos.
João Guimarães Rosa foi um escritor da terceira geração modernista, o quer dizer que o regionalismo estava presente em suas obras, junto de narrativas reflexivas e constantes oposições. Em Sagarana, publicado em 1946, os personagens são marcados pela incerteza, tendo suas histórias contadas não de maneira cronológica, por meio de temas universais; marca presença também o neologismo.
CONTO 1- O burrinho pedrês
Personagens principais: Sete-de-Ouros, Major Saulo, Badu e Francolim.
“Era uma vez, era outra vez, no umbigo do mundo, um burrinho pedrês.” (P. 60)
"O burrinho é quem vai resolver: se ele entrar n'água, os cavalos acompanham, e nós podemos seguir sem susto. Burro não se mete em lugar de onde ele não sabe sair!" (P. 74)
CONTO 2 - A volta do marido pródigo
Personagens principais: Lalino (Eulálio de Souza), Maria Rita, Ramiro e Major Anacleto.
“Eulálio de Souza Salãthiel, do Em-Pé-na-Lagoa, nunca passou além de Congonhas, na bitola larga, nem de Sabará, na bitolinha, e, portanto, jamais pôs os pés na grande capital.” (P. 90)
“Mas, um indivíduo, de bom valor e alguma ideia, leva no máximo um ano, para se convencer de que a aventura, sucessiva e dispersa, aturde e acende, sem bastar. E Lalino Salãthiel, dados os dados, precisava apenas de metade do tempo, para chegar ao dobro da conclusão.” (P. 101)
CONTO 3 - Sarapalha
Personagens principais: Primo Argemiro e primo Ribeiro.
“Vem soturno e sombrio. Enquanto as fêmeas sugam, todos os machos montam guarda, psalmodiando tremido, numa nota única, em tom de dó. E, uma a uma, aquelas já fartas de sangue abrem recitativo, esvoaçantes, uma oitava mais baixa, em meiga voz de descante, na orgia crepuscular.” (P. 135-136)
“Ai, Primo Argemiro, nem sei o que seria de mim, se não fosse o seu adjutório! Nem um irmão, nem um filho não podia ser tão bom... Não podia ser tão caridoso p'ra mim!..." (P. 149-150)”
“Bem que havia de ser razoável ter podido ao menos dizer à prima que ela era o seu amor... Porque, assim, tinha fugido sem saber, sem desconfiar de nada... Mas ele nunca pensara em fazer um malfeito daqueles, ainda mais morando na casa do marido, que era seu parente... Isso não! Queria só viver perto dela... Poder vê-la a todo instante…” (p. 145)
CONTO 4 - O duelo
Personagens principais: Turíbio, Silivana, Cassiano Gomes e Vinte-e-Um (Timpim)
“E Cassiano Gomes pensou: vendo tudo o que tenho, apuro o dinheiro, vou no Paredão-do-Urucuia, dar a despedida p'ra a minha mãe. Depois, então, afundo por aí abaixo, e pego o Turíbio lá no São Paulo, ou onde for que ele estiver. E despediu-se de todo o mundo, sabendo que nunca mais iria voltar.” (p. 176)
“— Seu Turíbio! Se apeie e reza, que agora eu vou lhe matar!” (p. 186)
CONTO 5 - Minha gente
Personagens principais: protagonista não nomeado e Maria Irma.
"De repente, notei que estava com um pensamento mau: por que não namoraria a minha prima? Que adoráveis não seriam os seus beijos... E as mãos?!.. Ter entre as minhas aquelas mãos morenas, um pouquinho longas, talvez em desacordo com a delicadeza do conjunto, mas que me atraíam perdidamente... Acariciar os seus braços bronzeados... Por que não?" (P. 219)
“— Que tal você e eu, Maria Irma?
— Um pouco tolos... Um pouco primos.” (P. 231)
“E foi assim que fiquei noivo de Armanda, com quem me casei, no mês de maio, ainda antes do matrimônio da minha prima Maria Irma com o moço Ramiro Gouveia, dos Gouveias da fazenda da Brejaúba, no Todo-Fim-É-Bom.” (P. 238)
CONTO 6 - São Marcos
Personagens principais: José e João Mangolô.
"Primeiro: todo negro é cachaceiro... Segundo: todo negro é vagabundo... Terceiro: todo negro é feiticeiro..." (p. 246)
"De Repente ele ficou cego "E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente: como uma pancada preta, vertiginosa, mas batendo de grau em grau - um ponto, um grão, um besouro, um anu, um urubu, um golpe de noite... E escureceu tudo." (P. 261)
"Não quis matar, não quis ofender... Amarrei só esta tirinha de pano preto nas vistas do retrato, p'ra Sinhô pas sar uns tempos sem poder enxergar... Olho que deve de ficar fechado, p'ra não precisar de ver negro feio..." (p. 268)
CONTO 7 - Corpo Fechado
Personagens principais: Manuel Fulô, Targino e narrador (personagem secundário).
"Mas, com o Manuel Veiga - vulgo Manuel Flor, melhor mente Mané Fulô, às vezes Mané das Moças, ou ainda, quan do xingado, Mané-minha-égua, outros eram os acontecimentos e definitiva a ojeriza: não trabalhava mesmo, de jeito nenhum, e gostaria de saber quem foi que inventou o trabalho, para poder tirar vingança. Por isso, ou por qualquer outro motivo, acostumei-me a tratá-lo de Manuel Fulô, que não deixava de ser uma boa variante." (P. 278)
"— Eu só queria treis coisas só: ter uma sela mexicana, p'ra arrear a Beija-Fulô... E ser boticário ou chefe de trem-de-ferro, fardado de boné! Mas isso mesmo é que ainda é mais impossível... A pois, estando vendo que não arranjo nem trem-de-ferro, nem farmácia, nem a sela, me caso... Me caso! seu doutor..." (p. 281-282)
CONTO 8 - Conversa de bois
Personagens principais: Manuel Timborna, Tiãozinho, Agenor Soronha e oito bois (Buscapé, Namorado, Capitão, Brabagato, Dançador, Brilhante, Realejo e Canindé).
"Mal se amoitara, porém, e via surgir, na curva de trás da restinga, o menino guia, o Tiãozinho um pedaço de gente, com a comprida vara no ombro, com o chapéu de palha furado, as calças arregaçadas, e a camisa grossa de riscado, aberta no peito e excedendo atrás em fraldas esvoaçantes." (P. 305)
“Começamos a olhar o medo... o medo grande... e a pressa... O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem caminho... É ruim ser boi-de-carro. É ruim viver perto dos homens... As coisas ruins são do homem: tristeza, fome, calor tudo, pensado, é pior..." (p. 311)
" — Eu acho que nós, bois, assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de forma e de jeito... O homem tem partes mágicas... São as mãos... Eu sei..." (P. 326)
"O bezerro-de-homem está andando mais devagar ainda. Ele também está dormindo. Dorme caminhando, como nós sabemos fazer. Daqui a pouco ele vai deixar cair o seu pau comprido, que nem um pedaço quebrado de canga... Já babou muita água dos olhos... Muita..." (p. 333)
CONTO 9 - A hora e a vez de Augusto Matraga
Personagens principais: Augusto Matraga, Dona Dionóra, Major Consilva, Joãozinho Bem-Bem.
"Agora, parado o pranto, a tristeza tomou conta de Nhô Augusto. Uma tristeza mansa, com muita saudade da mulher e da filha, e com um dó imenso de si mesmo. Tudo perdido! O resto, ainda podia... Mas, ter a sua família, direito, outra vez, nunca. Nem a filha... Para sempre... E era como se tivesse caído num fundo de abismo, em outro mundo distante." (P. 355)
"Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua." (P. 356)"
"— Estou no quase, mano velho... Morro, mas morro na faca do homem mais maneiro de junta e de mais coragem que eu já conheci!. mesmo, mano velho... Eu sempre lhe disse que era bom... É só assim que gente como eu tem licença de morrer... Quero acabar sendo amigos..." (P. 385)