Onassis Nóbrega 19/08/2022
Poeta das coisas simples e da desconstrução da linguagem?
Descobri o Manoel de Barros já tardiamente por intermédio de um paciente que foi para consulta com um livro seu em baixo do braço. Ao pergunta-lo sobre do que se tratava, o mesmo teceu elogios maravilhosos para o autor. Fiquei curioso e comprei inicialmente uma antologia (Meu Quintal é Maior que o Mundo). Não deu outra. Paixão a primeira lida. Nesta coletânea um fragmento de poema me impressionou especificamente:
?No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos?-
O verbo tem que pegar delirio. ?
Justamente deste livro aqui resenhado. Manoel é um poeta das coisas simples e da desconstrução das palavras e das sentenças. Nele realmente o verbo delira e este delírio traz uma sensação deliciosa à sua poesia. Difícil explicar. Tem que ler. Não li outros livros seus. Mas se tiver algum melhor que este, então não terei mais estrelas para dar.
Quanto a edição, excelente qualidade do projeto gráfico, material das folhas e capa. Muito material extra como cronologia, fotos, textos nas orelhas, verso da capa, apresentação, bibliografia. Não encontrei erros grosseiros.
Recomendo demais a leitura. Conheçam e se deliciem com Manoel de Barros.