Filipe Tasbiat 14/07/2024
Os entrelaçamentos de Gagnebin
Para mim, leigo na obra de Walter Benjamin, os ensaios de Jeanne Marie Gagnebin são um tesouro, visto que em muitos de seus textos ela traz a sua interpretação ? quando não sua decodificação! ? da obra do filosófo alemão. Mesmo os ensaios que não abordam diretamente as relações entre memória, escrita e literatura, são assaz instigantes. Gagnebin tece e aprofunda conceitos muito pertinentes à história da filosofia e aos seus atravessamentos com, por exemplo, a litetatura. Os ensaios em que analisa a Odisseia de Homero são hipnotizantes. É num desses ensaios que ela apresenta (o que aparece outras vezes em seus outros textos) o imbricamento entre memória, linguagem, escrita e morte a partir da palavra grega "sèma", que significa, ao mesmo tempo, "túmulo" e "signo". Da poesia épica a episódios trágicos da história como a Shoa, Gagnebin sublinha o ato de significar, por meio da língua, da escrita e da história, como o ato de lembrar dos nossos mortos, de não esquecê-los. Os ensaios que abordam a questão do esquecimento, aliás, também são extremamente proveitosos. Um mergulho muito bem conduzido que repercutirá questões abordadas anteriormente por grandes nomes da filosofia, da história e da literatura, desde Platão e Sócrates até Agostinho de Hipona, Walter Benjamin, Friedrich Nietzsche, Marcel Proust e Nicole Loraux. Este sem dúvida é apenas meu primeiro encontro com Gagnebin, já estou ansioso para conferir outros títulos da autora.