Sarah 20/08/2021
Sherlock Holmes francês?
Oh, não, meu caro amigo! É injusto fazer tal comparação. Sim, a inteligência e o brilhantismo de ambos é semelhante, mas Lupin está do outro lado da lei, caminhando, quem sabe, do lado interessante e aventuroso da vida. Arsène é francês demais para ser Sherlock, ou será Holmes inglês demais para ser Lupin?
Lupin é charmoso, um notável cavalheiro, ele próprio se descreve como possuindo a frivolidade francesa, adora mulheres e conquista amizades a qual ele estranhamente é fiel e, quando lhe dá na telha, faz uma boa ação. Sherlock, por outro lado, é difícil de gostar logo de cara por causa do seu humor, dos seus modos taciturnos, da sua reclusão, mas Lupin? Ah, Lupin! Difícil é não se apaixonar, ou, como dizemos no Brasil, não cair no golpe dele.
Para mim, os primeiros contos são fáceis de decifrar. Você vê Lupin, sabe o que ele está tramando e dá boas gargalhadas com suas peripécias, mas com o passar do tempo as coisas ficam complexas e, quem sabe, o próprio personagem consiga enganar o leitor. É como se ele fosse uma pessoa real que aos pouquinhos se revelou a Maurice Leblanc, o autor ? primeiro o fácil, depois o difícil ? ou será que foi o autor que passou a conhecer melhor o seu próprio personagem?
O conto "O Colar da Rainha" para mim foi o ápice. Ele foi a conexão emocional que faltava entre mim e o personagem, aquele vínculo que só se constrói quando você conhece a pessoa além da aparência. É incrível como soa como um privilégio. Conheço Lupin de verdade! Sei quem ele é! Simplesmente maravilhoso! Pois aqui são revelados segredos que nenhuma outra pessoa sabe, um conhecimento confiado somente ao leitor.
O livro foi uma boa aventura, uma leitura muito fácil que me rendeu muitos sorrisos traquinas enquanto eu torcia para um ladrão. Sinto que estou me despedindo de um amigo travesso e não exatamente honesto, mas que provavelmente uma hora ou outra estarei procurando revisitar.