Bryan.Paul 07/11/2022
Épico na língua e na forma revolucionária para a época
É notável que Júlia Lopes de Almeida é uma grande escritora. Não obstante, teria ocupado uma cadeira na ABL com prestígio e justificativa, o que não ocorreu devido o machismo da época que fez com que seu marido, e não ela própria, ocupasse tal lugar. A escritora possui um rigor linguístico que ultrapassa a gramática e nos dá a configuração de espaços e movimentações na história que são um deleite. Da agitada vida do Armazém Teodoro, das ruas calorosas do Rio de Janeiro e do cotidiano da casa da família de Camila, a agitação e os cenários são construídos de modo rico e sem economia de descrições sensitivas, do cheiro do café ao suor dos trabalhadores, tudo é bem destacado e faz o leitor mergulhar nesse ambiente de pujança ou, às vezes, da tranquilidade de um jardim domiciliar e de um diálogo secreto. Ademais, a autora, além da língua, trás elementos imprevistos e reviravoltas que te instigam do início ao fim. Também, a posição e diálogos feministas na obra parecem trazer justamente a visão de mundo de uma autora tão exímia mas suprimida pelas estruturas sociais que a rodeavam e coloca a obra além das relações das personagens, pois destaca um debate histórico. A Falência ocupa uma posição destacável na literatura brasileira e merece cada elogio, é indispensável para a cultura nacional.