Raniere 03/05/2016
PERSONAGENS FRACOS E DIÁLOGOS FORÇADOS
Quando pedi O Último Segredo, do autor português José Rodrigues dos Santos, eu esperava algo com a qualidade de Dan Brown. Apesar de ter achado o livro O Código Da Vinci um pouco meia-boca (achei as informações sobre o Opus Daí sensacionais, mas o romance eu achei fraquinho), consegui me divertir bastante com o livro (e sei que os outros de Dan Brown são melhores). Eu esperava, no mínimo, me divertir com O Último Segredo também, mas não foi isso que aconteceu. Apesar das informações sobre as fraudes na Bíblia Sagrada serem muito boas, o livro em si é tão ruim, tão ruim, mas TÃO RUIM que eu ficava irritado ao pegá-lo para ler e foi impossível chegar até o final. Era abandoná-lo ou cortar meus pulsos!
As informações sobre fraudes na Bíblia são diversas e, ao fim do livro, o autor fez uma nota final sobre estes fatos, indicando nela suas várias fontes. E a única coisa que me prendia no livro eram estas informações. Porém, a péssima qualidade do livro ofuscou a única coisa que ele tinha de interessante. Os personagens são fracos, os diálogos são forçados e superficiais, a história é previsível.
Para vocês entenderem melhor, vamos falar do enredo, analisando cada parte do que é dito:
Uma paleógrafa é assassinada no Vaticano, enquanto consultava um dos mais antigos manuscritos da Bíblia, o Codex Vaticanus. A polícia italiana convoca o historiador e criptoanalista português Tomás Noronha (também amigo da vítima) para ajudar a solucionar o caso.
Lendo esta primeira parte, o que vocês pensam? O assassino não quer que algo seja descoberto. Apesar de clichê, seria perfeitamente aceitável. A paleógrafa foi assassinada enquanto consultava o Codex Vaticanus (ela estava estudando as fraudes na Bíblia), o assassino (que está sob ordens de uma organização secreta) a assassina. Mas ai começam as incoerências: junto ao corpo, ele deixa uma mensagem criptografada que fala exatamente da fraude que a vítima estava trabalhando em cima. E não para por aí! O assassino começa a matar todas as pessoas que estão estudando estas fraudes e que podem revelá-las para o mundo e deixa, ao lado de cada corpo, mensagens criptografadas que explicam essa fraude!
Digam-me: QUAL É A LÓGICA DE MATAR AS PESSOAS PARA ELAS NÃO REVELAREM ALGO PARA O MUNDO E, AO LADO DOS CORPOS, COLOCAR MENSAGENS COMPROVANDO O QUE NÃO DEVE SER DIVULGADO?????
Mas os absurdos não param por ai! Tomás, convocado contra sua vontade para a investigação (e, inicialmente, apontado como suspeito), se depara com o cadáver degolado de sua amiga e começa a falar sobre as questões que ela estava estudando ao lado do corpo. E, durante as 100 páginas que ele está explicando os estudos de sua amiga (100 páginas de muita enrolação, também), Tomás faz PAUSAS PARA CRIAR SUSPENSE!
PAUSA PARA CRIAR SUSPENSE QUANDO ELE É SUSPEITO DE ASSASSINADO E AO LADO DA AMIGA DEGOLADA! QUEM FAZ ISSO??? QUEM??? ELE TINHA QUE SER PRESO!
Continuando:
A inspetora encarregada do caso é Valentina Ferro, uma católica fervorosa e, segundo a sinopse da orelha do livro (e o livro em si), uma beldade italiana.
A descrição na orelha do livro é completamente desnecessária, pois este era para ser um livro policial, e não de romance. Porém, durante a história, parece que o autor quer, realmente, forçar um romance entre os dois protagonistas (para ser sincero, os personagens são tão chatos que se merecem). Mas o pior não é isso! Valentina, católica de criação, convoca Tomás para ajudar na investigação. O passo lógico é: verificar o trabalho das vítimas, para ver o que elas tem em comum. Todas estudam as fraudes contidas na Bíblia. Abaixo estão duas frases ditas por Valentina, quando Tomás, ao encontrar as mensagens deixadas pelo assassino, começa a decifrá-las:
Por que você fica me falando essas coisas?.
Lá vem você de novo, parece que faz para me irritar.
Ai vocês pensam ah, mas foram só duas frases assim. Não! Em várias partes do livro, a inspetora da polícia encarregada de vários assassinatos brutais não apenas na Itália, mas em vários países (parece que ela é a mais eficiente do mundo) age como uma criança birrenta! QUE POLICIAL AGE COMO UMA CRIANÇA BIRRENTA NO MEIO DE UMA INVESTIGAÇÃO????
Lendo O Último Segredo, eu senti minha inteligência sendo constante e brutalmente insultada! Sentia preguiça para começar a ler e, durante a leitura, sentia raiva. Quando a leitura acabava, sentia cansaço. Não sei vocês, mas eu quero distância de qualquer coisa escrita por José Rodrigues dos Santos!
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