RicardoDM 03/06/2016
Agamêmnon
Agamêmnon retorna da guerra em Troia e é assassinado pela esposa Clitemnestra (que o traiu com Egisto). Há, na família, toda uma cadeia de eventos trágicos que precede este assassinato (alimentando o desejo de vingança das Fúrias) -- por exemplo: Atreu, pai de Agamêmnon, matou os sobrinhos e os serviu como refeição para o pai deles, seu irmão Tiestes, como represália por este tê-lo traído com sua esposa; Agamêmnon, para que os ventos permitissem a partida dos navios gregos rumo a Troia, ofereceu a própria filha, Ifigênia, como sacrifício aos deuses.
Achei bem interessante a figuração da mulher: o coro, primeiro, amaldiçoa longamente Helena por ter desencadeado tantas desgraças (o que me fez pensar em Eva e Pandora); depois, amaldiçoa Clitemnestra por ter tramado contra o marido (o motivo alegado por ela foi vingança pela filha Ifigênia). Como contraponto a essas mulheres, aparece Cassandra, a profetisa, que por ter se subtraído ao amor de Apolo foi condenada a vaticinar sem jamais ser acreditada (ela também é assassinada por Clitemnestra, juntamente com Agamêmnon).
Uma das falas mais poderosas de Clitemnestra (após os assassinatos, diante dos corpos, dirigindo-se ao coro):
"Contemplo enfim o resultado favorável
de planos pacientemente preparados.
[...] estendido ali no chão,
a vida se lhe foi no último suspiro
cortado por golfadas de sangue abundante
que me molhou com suas gotas cor de púrpura,
mais agradáveis para mim que a própria chuva
mandada pelos deuses para a terra ávida
na época em que as flores todas desabrocham.
[...] se este homem fez a taça transbordar
das maldições inumeráveis desta casa,
é natural que a sorva hoje de um só trago!"