Iara Caroline 16/07/2024
Ao Sul da França.
Os Mistérios de Udolpho é um daqueles livros que a gente acaba imaginando várias coisas antes de pegar e realmente lê-lo. E quando lemos ficamos perplexos entre a expectativa e a realidade (se assim podemos dizer). Estou lendo esse livro por causa de Catherine Morland, uma leitora ávida até demais. Digo ?lendo? porque esse foi o volume um e ainda preciso concluir essa viagem ao Sul da França e ao Norte da Itália.
Bem, no geral fico muito propensa a comparar a realidade das protagonistas. Nesse quesito, há pontos de muito interesse. Depois, também fico observando algumas características de Ann Radcliffe, o que me fez incomodar com alguns maneirismos de sua escrita: longas observações da natureza, um caráter moralista nos discursos de seus personagens. E ai vem o gótico que por um longo tempo eu questionei, mas quando se mostrou veio com todas suas características essenciais. Mas não posso negar como uma coisa ou outra entre essas me deixou decepcionada.
Nesse livro, a narrativa pende para o cansativo e o desnecessário muitas vezes. Eu me sentia muito envolvida pelos personagens para abdicar de fato, mas certas vezes me irritava com algumas narrações. Depois, ao contrário daquilo que me faz cativar com diversas autoras, a Radcliffe não parece ter aquele essencialismo de costurar todos os pontos da história. Pode ser que tenha, afinal: não li ainda todo o romance. No entanto, diversas vezes o narrador brinca com a perspectiva do leitor que é informado de certos acontecimentos ou comportamentos metafísicos aos personagens mas não é de fato atualizado de todos os pormenores. Parece uma tentativa de manusear o mistério, só que na verdade transparece uma narrativa cheia de buracos e falta de explicações. Ademais, aquela narrativa circular que busca prolongar a história em fatos de mesma natureza, sem de fato haver rupturas essenciais. São algumas das caraterísticas que mais me irritam em certos romances.
Todavia, é verdade que gosto e me interesso pelo futuro desses personagens. O castelo, os cenários (por mais que desnecessariamente repetidos ao leitor) as pinturas aqui e ali despertam o envolvimento. Acho que irei logo ler o segundo volume e poder observar o desenrolar em um geral. Mas o que me interessa de fato é observar as características externas e poder fazer ligações dela com a obra de Austen, o contexto histórico e literário. Tem sido um pouco desafiador, mas espero encontrar um núcleo interessante: aliás, a própria ligação dessas autoras já se mostra um material e tanto.