Marcos606 19/09/2023
Sebastião Rodrigues, um jovem padre jesuíta português parte em 1637 para o Japão ao lado de companheiros sacerdotes. Eles planeiam ir, para fazer trabalho missionário e para descobrir a verdade sobre o seu professor, Cristovão Ferreira, um respeitado missionário e teólogo, que recentemente foi envergonhado por causa da sua apostasia. No Japão, os cristãos vivem sob forte perseguição e são frequentemente torturados.
Em Macau, Rodrigues e o seu companheiro Garrpe conhecem Kichijiro, um japonês que conhece cristãos que praticam a sua fé em segredo. Ele é astuto e alcoólatra, mas a melhor escolha de guia que eles têm. Eles chegam ao Japão em uma pequena cidade chamada Tomogi, perto de Nagasaki. Lá administram a sua fé a partir de uma cabana secreta no alto de uma colina. Logo a fé de Rodrigues é testada: dois cristãos da aldeia, quando solicitados a abandonar a religião, recusam. Eles são então deixados no oceano em estacas para morrer de exaustão. Rodrigues começa a questionar por que Deus se cala diante desse horrível sofrimento de seus seguidores.
O título é referente ao silêncio de Deus em meio ao mal e ao sofrimento humano. O leitor é levado mais fundo no mistério à medida que a narrativa se desenrola. Atos de maldade humana que causam angústia, sofrimento e morte parecem suscitar apenas fria indiferença.
Como cristãos, quando testemunhamos injustiças e abusos, lutamos para decifrar uma razão para isso. O apóstolo Paulo disse à igreja perseguida em Roma que todas as coisas contribuem juntamente para o bem (Romanos 8:28). Se conseguirmos encontrar uma razão para a dor, poderemos provar que Deus ainda é soberano e que Ele ainda é bom. Endo aborda esta necessidade desesperada de encontrar sentido na nossa miséria, enquanto Rodrigues reflete sobre o martírio de dois homens da sua congregação:
Mas eu sei o que você dirá: ‘A morte deles não foi sem sentido. Foi uma pedra que com o tempo será o fundamento da Igreja; e o Senhor nunca nos dá uma prova que não possamos superar… Como os numerosos mártires japoneses que morreram antes, eles agora desfrutam de felicidade eterna.’ Também eu, é claro, estou convencido de tudo isto. E ainda assim, por que esse sentimento de tristeza permanece em meu coração?
Endo vai ao cerne da nossa experiência humana de sofrimento: mesmo sabendo que “o sangue dos mártires é a semente da Igreja” ainda devemos lamentar as vidas perdidas.
Em um momento de sofrimento mental, Rodrigues clama ao Senhor por paz, mas não recebe resposta. Perto do final da sua prisão, Rodrigues é confrontado por um antigo mentor, o Padre Ferreira, que abandonou a fé durante torturas extremas e começou a trabalhar para os seus perseguidores para desmoralizar os crentes japoneses. Ferreira descreve como foi forçado a ver a sua congregação sangrar: “Eu rezei. Continuei orando. Mas a oração não fez nada para aliviar o sofrimento deles.”
Ferreira está errado. A oração pode trazer conforto de uma forma que nada mais consegue.
O elemento mais doloroso da angústia de Rodrigues não reside na tortura sofrida, mas sim no seu sentimento de abandono por Deus.
No clímax do livro de Endo, Rodrigues renuncia a fé, para acabar com o tormento de quatro irmãos crentes. Tal como Ferreira, ele começa então a trabalhar para o governo para reprimir a ascensão do cristianismo no Japão. Nas últimas páginas, Rodrigues confessa: “Senhor, fiquei ressentido com o teu silêncio”. Uma voz responde: “Eu não fiquei calado. Eu sofri ao seu lado.”
Podemos concluir que Deus nunca fica em silêncio, Ele fala precisamente quando devemos ouvir a Sua voz.