Danilo Barbosa Escritor 29/04/2011Procurando a voz de DeusQual é a fé verdadeira?
Shusaku Endo conseguiu criar uma forma de responder isso magistralmente em O Silêncio (Editora Planeta, 288 páginas), um dos mais densos e maravilhosos textos da literatura mundial sobre o ceticismo de um homem em relação ao catolicismo.
Entre trechos históricos e personagens que analisam a nossa relação de crença e temor com Deus que teimamos em não aceitar - o ceticismo em nossas ações -, o autor nos traz a história do padre jesuíta português Sebastião Rodrigues, que foi para o Japão em 1630 pregar o catolicismo e incentivar os nativos a aceitarem o amor de Cristo. Naquela época dos xogunatos, esta religião era terminantemente proibida e seus seguidores eram torturados e condenados a enfrentar vários suplícios, entre eles o poço (buraco onde as pessoas eram amarradas de ponta cabeça, cobertos de fezes e dejetos, com cortes atrás das orelhas para que sangrassem até morressem), a não ser que apostatassem - a apostasia era a renegação completa de Cristo e da Igreja.
Cheio de dúvidas e receios, Sebastião não chegou ao Japão apenas para trazer ao povo a luz da sua fé. Secretamente quer saber a verdade sobre o seu professor, um grande exemplo religioso, que tinha se recusado a morrer como um santo e havia renegado tudo aquilo que acreditavam.
Neste caminho cheio de contrastes entre Oriente e Ocidente, Sebastião irá conhecer um mundo completamente diferente do dele, mas não isento do sofrimento e dor que cercam o martírio e o medo do pecado.
Mas assim como seu mestre, ele deverá fazer a escolha entre sua fé ou viver. E neste difícil momento, o acompanhamos nas noites vazias, perdido entre crença e realidade onde, com os gemidos dos japoneses cristãos martirizados, ele clama ao seu Deus e se perde diante do silêncio que vem como resposta.
Para mim, este é um dos melhores textos que li até hoje. Apesar de possuir uma leitura fácil, sem floreios, tem uma densidade e força magistrais. É impossível não se emocionar com as passagens do livro e as suas análises sobre sua fé, que oscila diante da força dos opressores. Cada personagem, por mais ínfimo que seja sua passagem pelo relato, deixa uma marca indelével na alma do leitor.
Veja resenha completa no Literatura de Cabeça:
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