spoiler visualizarAnne L. 22/10/2015
Então...
Eu escrevo e leio histórias boy's love/yaoi/slash há mais de dez anos, daí, quando vi esse lançamento, não pude deixar de conferir, como fiz com a coletânea de contos da Draco. Infelizmente, não foi nada do que eu esperava. Assim, tem alguns aspectos bons, tipo o papel, a apresentação (da capa, dos desenhos, a parte de fora) e a intenção da editora e da autora de popularizar o gênero (se foi essa) é ótima, mas não quando as coisas são feitas dessa forma.
Para começar, DE NOVO, a Draco não pareceu se importar muito com a parte de revisão/formatação do texto. Na primeira coletânea de Boy's Love, a falta de revisão foi meio triste em alguns contos, mas, em "Flor de Ameixeira", apesar de eventuais incômodos, foi bem mais leve nesse aspecto (hífens que deveriam ser travessões, pontuação de diálogo, etc.). O pior, achei que foi o texto nem ser justificado. Quando tem um objetivo pra isso, como toda a série "Como Treinar o seu Dragão", tudo bem, ou se as imagens aparecem no meio das palavras, algo nesse sentido. Do jeito que está, pareceu só desleixo.
Obviamente, eu não dei uma estrela porque achei a revisão ruim ou porque o texto não é justificado. Vamos à história em si. É aquela coisa, né, menino novo na escola, meio nerd, com traços femininos, os pais por conveniência nunca tão em casa, ele lava, passa, costura e cozinha sozinho, e o bad boy gosta dele. Dá para trabalhar bem com clichê, e eu até achei na parte do jogo (quem leu sabe do que se trata) que tinha me enganado, mas não sai disso. As personalidades de ninguém ficam muito claras, é muita gente sendo apresentada de uma vez (eu confundi várias vezes quem era o par romântico do Naoki e quem eram os amigos dele, porque rola uma troca louca de nome e sobrenome toda hora) e, no fim, até o jogo e o que ele desencadeia, que eu tinha achado legal, fica sem graça quando fica claro que o objetivo é somente fazer o casal se pegar na história. "Ah, sua chata, mas que que tem rolar pegação, tem história que é só assim e blá." Mas não é PWP, não se apresenta como um livro erótico e só isso, então ficou esquisito o enredo ser só um background pra justificar o romance.
Aliás, até o romance apresenta inúmeros problemas. Pra variar, a primeira coisa que o Takuma (par romântico) diz pro Naoki quando eles começam a se beijar é "ah, mas eu não sou gay". Gente, sério, pra que isso? Qual é essa necessidade de "justificar" que o cara que tá pegando o outro "não é" gay? Podem tentar argumentar que no Japão é complicado, difícil se assumir, etc., mas não tem pano de fundo pra isso. O Takuma faz uma investida do nada (do nada) no Naoki, sem antes ter rolado qualquer indício de que ele queria alguma coisa além de ajudá-lo a se livrar da Umeko. O Naoki também não demonstrou qualquer interesse, mas respondeu do mesmo jeito, "também não sou". E aí eles avançam e partem pro sexo (entre dois caras que não são gays) também do nada. Naoki dá uma de tímido, depois na verdade quer muito aquilo, pede pra irem logo, não tem lubrificação, aparecem umas camisinhas do nada que, por sorte, Naoki tinha guardado ali do lado desde a aula de educação sexual... Enfim, é uma sequência de machismo, erros bobos que a gente vê em cenas de sexo em fanfics e até Deus ex machina (sério, as camisinhas...). Também ainda não entendi por que do nada (de novo) o Takuma é exorcista, a família toda dele é e, na verdade, ele se mudou pra lá só com o objetivo de exorcizar a Umeko. Essa explicação se dá de repente e toda de uma vez, sem muito background pra sustentar nada.
Espero que a autora leia um pouco mais, pesquise, se informe melhor sobre esses "detalhes". É sempre bom ver BLs e afins sendo publicados no Brasil, em especial de autores nacionais, mas acho que levar em consideração o conteúdo da obra também é importante.