Adriano 03/03/2024
Experiência de leitura
Achei muito legal retornar ao universo da Agatha Christie. Foi a autora que me fez viciar nos livros. E, depois de tantos anos (e de muitos outros livros), a experiência faz com que a gente preste atenção em outros elementos na narrativa.
Nesta história, um casal de irmãos vai passar um tempo numa cidadezinha no interior da Inglaterra. Logo, eles e outros moradores começam a receber cartas anônimas com conteúdos aparentemente reveladores, até que um crime acontece. Vamos acompanhando a narrativa pelo ponto de vista do irmão, Jerry Burton e só no quarto final do livro aparece a famosa (e idosa) Miss Marple.
A história é aquele tipo de romance policial de "quarto fechado": você sabe quem são todos os suspeitos e tem a possibilidade de acertar o criminoso (eu não acertei).
É um bom passatempo, mas o que me chamou a atenção foram duas passagens que, com certeza, na minha adolescência como leitor de Christie não teria dado tanta importância. No início, um dos personagens fala que "as casas tem atmosfera". Isso é uma pista da conhecida influência de Charles Dickens na autora. Dickens tem um livro chamado "A casa soturna", um drama com teor de suspense no qual a casa é um personagem central. Eu fui atraído à ler Dickens no final da adolescência pelo tanto que eu ouvia falar que a Agatha Christie gostava dele. Agora, com a experiência de leitura adquirida, a homenagem não passou despercebida.
Outra coisa foi Jerry Burton mencionar num certo momento que (parafraseando), "sabemos mais do que temos consciência". Isto aqui faz referência à noção de conhecimento tácito do filósofo que se naturalizou inglês, Michael Polanyi. Para ele, tem muita coisa que a gente faz, mas não consegue explicar, tipo andar de bicicleta, fazer um pão de maneira excelente ou dirigir um carro no centro de São Paulo. É somente com a experiência que adquirimos tais habilidades. Não sei se Christie leu Polanyi, mas a frase é muito exata, e a ideia era nova e badalada em certos centros universitários ingleses na época.
Enfim, quanto mais lemos, melhor aproveitamos as leituras.