Roberto 10/04/2022
Certa vez, Manoel Bandeira escreveu "Não quero mais saber do lirismo que não é libertação", anunciando dois princípios da poesia modernista, que abriu mão da métrica e da rima. A partir do modernismo, os poetas passaram a adotar o verso livre, sem se preocupar com a contagem de sílabas poéticas, e branco, no qual a rima deixou de ser essencial. Carlos Drummond de Andrade, considerado o maior poeta brasileiro do século XX e um dos maiores do país, aderiu a esses princípios, vindo a se tornar um dos grandes representantes da segunda geração do modernismo. Muitos poemas do autor não apresentam rimas, além de observarmos claramente uma liberdade de escrita em suas composições.
O tomo Nova Reunião: 23 Livros de Poesia é uma coletânea póstuma, organizada pela editora Companhia das Letras. Ele contém 16 livros integrais (Alguma Poesia, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, José, A Rosa do Povo, Novos Poemas, Claro Enigma, Fazendeiro do Ar, A Vida Passada a Limpo, Lição de Coisas, A Falta que Ama, As Impurezas do Branco, Paixão Medida, Boitempo I, Boitempo II e Boitempo III) e seleções de poemas de outras sete obras de Drummond (Viola de Bolso, Versiprosa, Discurso de Primavera e Algumas Sombras, Corpo, O Amor Natural e Farewell).
Esta coletânea apresenta um panorama bem amplo da obra do príncipe dos poetas brasileiros, que teve uma vida longeva e produtiva. Nela, vemos Drummond retratar cenas da vida cotidiana, memórias de Itabira (sua cidade natal), lembranças do colégio interno em que estudou, impressões sobre o Rio de Janeiro, onde passou boa parte de sua vida, bem como sua ideologia política, próxima ao socialismo. Um autor tão profícuo abordou tantos temas que não caberiam nesta resenha.
Tive alguma dificuldade para ler o livro, que afinal são 23 em um só. Drummond é um dos autores que admiro desde o Ensino Médio, devido aos poemas e excertos publicados em livros didáticos de Língua Portuguesa, mas foi a primeira vez que tive contato com suas obras integrais. Essa experiência foi um pouco incômoda, porque ao lado de poesias curtas, similares àquelas que eu já conhecia e estimava, o autor possui poemas muito longos. Confesso que, em alguns desses, acabava me perdendo na leitura, tendo que relê-los ou deixá-los de lado, com o intuito de acabar o volume. Acredito que se tivesse lido os livros individualmente, a sensação de desespero que me acometia algumas vezes seria atenuada.
Ainda assim, fiquei mais maravilhado ainda com os poemas do autor e recomendo a leitura para aqueles que querem conhecer mais de Drummond. Só indico que o leitor prepare o espírito para passar longos meses na companhia dele, a não ser que o leia junto com outros livros, de maneira intercalada.