Qorpo-Santo: Teatro Completo

Qorpo-Santo: Teatro Completo Qorpo Santo




Resenhas - Qorpo-Santo: Teatro Completo


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Biblioteca Álvaro Guerra 11/11/2024

Genial, louco, enigmático, profético, rebelde, ousado. José Joaquim de Campos Leão (1829-1883) era tudo isso. Mas antes da metamorfose mental que o transubstanciou em Qorpo-Santo, Campos Leão não passava de um pacato professor e um pressuroso homem público que chegou a se eleger vereador. Ele nasceu na vila do Triunfo, no interior do Rio Grande do Sul. Casou-se, teve quatro filhos, mudou-se para Porto Alegre. Aos 35 anos, alterações de comportamento levaram-no a ser acusado na justiça de alienação. Deu então início a uma guerra pela preservação de seus direitos que durou até a morte. Nesse conflito, Campos Leão perdeu todas as batalhas. Devemos sua Ensiqlopédia – obra caleidoscópica e incomum, publicada em nove volumes em 1877, onde foram incluídos os textos teatrais reunidos neste livro – à luta que travou contra a família, a sociedade e a enfermidade mental.

As peças que compõem o teatro de Qorpo-Santo têm uma longa história. Escritas na estranha grafia proposta pelo autor, foram todas fruto de um período de febril criatividade de Qorpo-Santo, que se estendeu de 31 de janeiro e 16 de maio de 1866. Uma década mais tarde chegaram ao prelo no volume IV da Ensiqlopédia. Levaram quase um século para deixar o papel e tomar forma no palco. Consideradas por seus contemporâneos obras de um insano, caíram no esquecimento, do mesmo modo que toda a produção de Qorpo-Santo, até serem resgatadas desse buraco negro em meados do século 20, devido ao esforço de intelectuais e artistas gaúchos.

No universo delirante destes textos teatrais, Qorpo-Santo mostrou homens e mulheres presas de contradições terríveis. Elaborou tramas que envolviam adultério, homossexualidade, violência, inconformismo. E isso num momento em que o grande sucesso do teatro em todo o mundo era A dama das camélias, de Alexandre Dumas Filho, com sua dramaturgia bem-comportada e a esmagadora vitória da moral burguesa ao final. Na distante e provinciana Porto Alegre, Qorpo-Santo inventava um teatro feito de irreverência, arbitrariedade, absoluto desprezo pelas convenções. Hoje sou um, amanhã outro, As relações naturais e Um credor da Fazenda Nacional e outras muitas de suas peças eram animadas por furiosa oratória que fustigava as convenções e investia contra o grupo social que Dumas consagrava e a cujos preceitos se curvava.

A presente edição do teatro de Qorpo-Santo é enriquecida por um ensaio/prefácio de Eudinyr Fraga, especialista no assunto. Fraga, professor que já dedicou um livro ao escritor gaúcho, sintetiza aqui com finura e grande precisão a trajetória de José Joaquim de Campos Leão. Também recoloca os pingos nos ii ao provar por a+b que, ao contrário do que se afirmou durante décadas, o teatro de Campos Leão não tem a ver com o teatro do absurdo de Eugène Ionesco e Samuel Beckett, mas sim com o surrealismo de Breton, Duchamp e companhia. No mundo dos sonhos recuperados, do mergulho no inconsciente, é que deve de ser encaixado Qorpo-Santo, um homem atormentado, humilhado e ignorado por seus contemporâneos, que se vingou de seus opressores, homens “normais”, hoje esquecidos, com uma obra que não apenas resistiu com bravura à passagem do tempo como, a cada dia, soa mais intrigante, desafiadora e vital.

site: site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/8573211547
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r.morel 01/01/2018

Resenha Telegráfica
José Joaquim de Campos Leão é o nome verdadeiro do ser divino (assim os boatos dizem que o próprio se considerava…) Qorpo-Santo, dramaturgo, diagnosticado com monomania, interditado por esposa e filhos. Escreveu a maior parte dos seus trabalhos durante uma grave crise psíquica. A vida seguiu e ele também, rotulado como todos (“Doido varrido!”), parece que ficou bem.

“São hoje 14 de maio de 1866. Vivo na cidade de Porto Alegre, capital da Província de S. Pedro do Sul; e para muitos, Império do Brasil… Já se vê pois que é isto uma verdadeira comédia! (Atirando com a pena, grita) Leve o diabo esta vida de escritor! É melhor ser comediante! Estou só a escrever, a escrever; e sem nada ler; sem nada ver.”

site: popcultpulp.com
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Felipe 01/10/2012

Uma faísca de vanguarda na província.
Peças medianas e confusas convivem com lampejos de genialidade e revoluções narrativas.
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