Raniere 21/02/2016
CONHEÇA AS SUTILEZAS E A VIOLÊNCIA DO PODER TSURANI EM “A SERVA DO IMPÉRIO”
Misturando fantasia com ficção científica, Raymond E. Feist, que esteve no Rio de Janeiro durante a Bienal do Livro de 2015, criou um universo fantástico bem complexo que começou na Saga do Mago, onde o leitor pôde acompanhar a violenta Guerra do Portal, quando o povo de Tsuranuanni invadiu, através de um portal mágico, o mundo de Midkemia, para que pudessem extrair metais e escravizar os midkemianos. Então, em Filha do Império (resenha AQUI), primeiro livro da Saga do Império, foi apresentada Mara dos Acoma, jovem de Tsurannuani que, minutos antes de fazer seus votos à deusa Lashima, foi retirada do Templo por soldados Acoma em estado deplorável (depois descobrindo que eles eram os últimos soldados) após o assassinato de seu pai e seu irmão. Mara precisava gerir sua família, o exército que herdara e tinha a missão impossível de evitar a derrocada dos Acoma. Já em A Serva do Império. . . Melhor eu trocar de parágrafo, pois não tem como falar nada desse livro sem soltar spoiler do seu antecessor.
Caso você não tenha lido A Filha do Império, ler as próximas linhas é por sua conta e risco!
Após Mara derrotar o maior inimigo dos Acoma, o Senhor Jingu dos Minwanabi, em sua própria casa, durante o aniversário do Senhor da Guerra Almecho, e de forçar uma paz com o Senhor Tecuma dos Anasati, com duas manobras brilhantes, Mara enfrenta seu maior desafio: derrotar Desio, o filho do Senhor Jingu, que jurou ao Deus Vermelho da Morte Turakamu, em sua sede de vingança, matar até o último membro dos Acoma ou ver sua casa ser consumida pela morte. E Desio tem o apoio de Tasaio, um dos mais brilhantes generais e estrategistas do Império e ninguém menos que a pessoa que arquitetou a morte de seu pai e irmão.
Devo dizer que a Saga do Império está sendo, até agora, a minha favorita no Universo criado por Raymond E. Feist. Ele nos apresenta aos tsurani, uma sociedade tão distorcida, que escraviza os derrotados em batalha por acharem que eles perderam sua honra e sua alma, que não vêem problema em matar no seu Jogo do Conselho, e tão sexista, que não aceita que uma mulher faça qualquer coisa relacionada à política, que o leitor pensa “Eu to lendo sobre meu próprio mundo?”; na Saga do Império, Raymond E. Feist e Janny Wurts inovaram completamente um estilo onde, normalmente, o herói é sempre másculo, valente e precisa salvar a princesa em perigo (vimos isso até mesmo na Saga do Mago, principalmente no livro Espinho de Prata). Mara não apenas entra na política e faz sua casa voltar a ser uma das mais importantes do Império, como desafia todos os conceitos deturpados de Tsurannuani. Além de tudo isso, as sutilezas do jogo de poder tsurani, mostradas mais detalhadamente na Saga do Império, são comparáveis ao clássico de Mario Puzo, O Poderoso Chefão. É como se tudo fosse uma grande máfia, onde os clãs são as Famílias com algum tipo de parceria, e onde matar faz “parte do negócio”.
Outro fato importante é que Mara compra escravos de Midkemia e acaba se apaixonado por um desses escravos: Kevin de Zur. A relação que ela tem com Kevin não será bem vista na sociedade onde vive, pois, para os tsuranis, escravos não tem honra e nem alma. Porém, ao passo que Kevin fala de seu mundo e seus costumes para Mara, esta começa a questionar sua própria cultura. Kevin também fica dividido: ele quer viver com Mara, a mulher que ama completamente, porém, também deseja libertar seus companheiros midkemianos e não abrirá, nunca, mão de sua liberdade por ninguém. E, por mais que Mara também deseje libertá-lo, isso não é permitido em hipótese alguma pelos tsuranis.
Os acontecimentos narrados em A Serva do Império ocorrem durante os livros Mestre, Espinho de Prata e As Trevas de Sethanon, e o leitor pode acompanhar, de outro ponto de vista, acontecimentos memoráveis, como Pug, assumindo sua personalidade do Mago Negro Milamber, causa uma carnificina durante os Jogos do Império, a queda do Senhor da Guerra, a ascensão total do Imperador de Tsuranni e a batalha de Midkemia e Tsuranni contra o Inimigo, que visa destruir as duas terras.
A Serva do Império é, sem dúvidas, o melhor livro não apenas da Saga do Império, mas de todo o universo fantástico criado por Raymond E. Feist, até agora. E o que faz desse livro o melhor não são apenas as batalhas (que são muitas), a sutileza e violência da política e do Jogo do Conselho, as reviravoltas ou o enredo, que é maravilhoso. Criei um carinho especial por A Serva do Império por causa da paixão com que a história é contada; de como o leitor pode visualizar os sentimentos dos personagens, como se fosse algo sólido. Ao ler este livro, o leitor não é um mero espectador, e sim parte dos acontecimentos narrados no livro.
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