Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 13/02/2024Não é loucura, Dede, é dorÉ muito difícil falar sobre uma história que a cada página traz uma surpresa e tantos acontecimentos que não estão ali simplesmente para encher o livro de linhas e mais linhas sem sentido. São acontecimentos que fazem parte de todo um emaranhado tão bem construído que, ao final, nos vemos sendo lembrados de acontecimentos de lá do começo da história que ainda ecoam nos personagens e nos lugares.
"História da menina perdida" se passa principalmente em Napoli, pois neste volume, por diversos motivos — possíveis de se imaginar com o final do terceiro livro — Lenù retorna às origens.
Voltar ao rione significa estar novamente próxima a Lina, e ver a dinâmica da amizade delas na vida adulta é muito interessante: ainda é uma amizade complicada, com seus altos e baixos, mas talvez um pouco menos tóxica que na infância.
Os anos longe, as vivências fora daquela realidade, permitiram uma nova visão do todo para Lenù.
Essa nova visão, aliás, serve não apenas para sua relação com Lina, mas com todos aqueles que fizeram parte de sua infância, inclusive sua própria mãe.
A vida adulta também traz uma clareza sobre fatos que sempre estiveram lá e que desde o primeiro livro são descritos, mas talvez de maneira um pouco confusa: a violência, as relações, a política, a máfia.
A morte ganha ainda mais espaço neste volume, seja porque os anos passaram e as pessoas envelheceram, seja porque a violência, como dito, fica ainda mais clara (e mais forte). Já era de se esperar que muitos personagens morressem, mas, ainda assim, é chocante acompanhar um a um indo embora.
Com isso, a memória também ganha um peso ainda maior, o que, consequentemente, deixa ainda mais claro que Lenù não é uma narradora confiável: foram quatro volumes de uma história narrada por ela, por aquilo que a memória dela lembrava e por aquilo que ela interpretou de todos os fatos ocorridos.
Isso nos leva a outro ponto de extrema importância: o fazer literário. Lenù é, sobretudo, uma escritora. E são diversos os momentos em que se menciona o papel da literatura em nossas vidas.
Do título também pode ser que fique clara uma coisa: a importância do contraste entre o adulto e a criança ao longo deste último volume. Por meio de suas filhas, Lenù (e também os demais personagens de sua infância que se tornam mães e pais) pode enxergar muito daquilo que passara despercebido quando era criança, mas também têm a oportunidade de aprender muito: há lindos diálogos entre elas, que nos fazem refletir um bocado.
O momento em que o título deste volume faz sentido é doloroso, triste, mas importante para marcar mais um ponto de transformação, de amadurecimento e de encaminhamento para a conclusão desta história.
No meio disso tudo, como provavelmente já ficou bem claro, Lenù segue dando peso às relações humanas, sobretudo àquelas românticas (mas não somente), sempre tão complicadas.
"História da menina perdida" consegue amarrar as pontas soltas desta tetralogia, ao mesmo tempo em que continua a nos deixar espaço para preencher algumas lacunas necessárias à magia desta narrativa.
Trazendo muitas temáticas importantes — para além das citadas aqui, presentes também nos volumes anteriores, a autora ainda nos faz acompanhar os avanços tecnológicos e a aceitação (ou não) daquilo que é diferente para a sociedade — Elena Ferrante conclui a tetralogia napolitana de uma maneira que não decepciona, ainda que eu ache que mais e mais dessa história nunca seria demais.
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