Christiane 24/07/2021
Butler tem sido minha filósofa preferida de uns tempos para cá, principalmente porque retoma grandes filósofos, antropólogos e psicanalistas fazendo um crítica através do questionamento e não da destruição e partindo deles para criar algo além que acompanhe o mundo atual e suas questões, mas sem desconsiderar o que estes teóricos compreenderam dentro do seu contexto e momento que viviam. Pessoalmente gosto mais desta forma de pensar do que uma dialética onde se nega a tese para se criar a síntese, o novo.
Ela acaba refletindo minha forma de pensar, ao analisar o que muitos disseram e estudaram e que ainda é paradigmático hoje, chegando muitas vezes a ser inquestionável, mas em que minha opinião precisa ir além, uma vez que o mundo tem mudado a uma velocidade meteórica e surgem novas formas de relacionar-se, de viver a vida, além de questões como a dificuldade em aceitar as diferenças, o ódio ao outro, a forma como estamos alienados e imbuídos de um sistema que rege nosso pensamento.
Neste livro ela pensa sobre a ética e o outro.
A questão do livro é o fato do eu narrar a si mesmo e de como deve agir, porém ao nos darmos conta de que não conseguimos falar de si mesmo sem o outro, sem nos darmos conta que este eu surge dentro de condições sociais, ou seja, pelo outro, surge uma nova maneira de pensar a ética.
Não há como eu se conhecer de forma completa, este eu não existe sem o outro, sem o social, uma vez que somos constituídos pelas normas sociais, pela linguagem, que nos precede. Então para que eu possa me responsabilizar por mim estou simultaneamente me responsabilizando por este outro que está em mim.
E a crítica é que justamente vivemos num sistema que cobra o eu, temos que ser consistentes e com pleno autoconhecimento de si mesmo e passamos a nos autocensurar. Mas ao nos darmos conta que destas normas que nos constituem e ao criticá-las podemos também nos dar conta da fragilidade do outro que é constituído da mesma forma.
Butller traz para um plano filosófico o que aprendi pela psicanálise. Nosso eu é algo frágil, constituído pelo outro, respondemos ao desejo do outro, e ao nos darmos conta disto percebemos o quanto somos limitados e pouco donos de si mesmo, ou como dizia Freud, o eu não é dono em sua casa. Mas isto também nos leva a compreender que o outro é como nós. Mas ela vai além, uma vez que traz a questão para o mundo, no contexto atual e a coloca na ética.
Só podemos compreender o outro suspendendo nosso juízo, para poder compreender a humanidade do outro, ao invés de fazer juízos.