Lurdes 17/09/2024
"Ninguém poderá falar que eu desisti dele; passei trinta anos da minha vida tentando ter o Felipe de volta, sem dar importância a nada além disso."
A dona desta fala é Ângela, mãe de Felipe, que tinha apenas 5 anos quando desapareceu.
Em uma hora estava de mãos dadas com ela, após soltar sua mãozinha por um breve instante, ele simplesmente desaparece.
Este é um dos maiores medos das mães: perder seu filho, não vê-lo nunca mais, não saber se está vivo ou morto, se passa/passou por algum tipo de sofrimento. Acho que todas as mães já tiveram algum sobressalto com um filho, aquele instante em que o perdemos de vista e o desespero nos tira o ar (eu mesma, já levei um susto assim) para, logo em seguida, respirar aliviada, ao localizá-lo e poder abraçá-lo novamente.
Este é o tema de Rebentar, de Rafael Gallo que acompanha alguns meses na vida de Ângela, passados 30 anos do desaparecimento de Felipe. Neste momento Ângela, exausta, decide abandonar as buscas por seu filho.
Suas esperanças já foram desfeitas, ela sabe que nunca mais reencontrará aquele menino.
Mesmo que se encontrassem hoje, ele já seria um homem, um desconhecido.
Uma vida dedicada a esta busca que a afastou de qualquer outro objetivo.
Na história, Ângela seguiu ao lado de seu marido, Otávio. Cúmplices da mesma dor, sobreviveram juntos à perda, o que geralmente não acontece.
Enquanto junta seus cacos e tenta algum tipo de recomeço, muitos sentimentos contraditórios a perseguem.
Mesmo quando resolvem reformar a casa, cadê coragem para desmontar o quarto de Felipe, mantido quase como um santuário?
Ao descobrir que Isa, sua sobrinha, tão próxima e amada, está grávida, cadê força para compartilhar de sua alegria?
Uma narrativa construída dia após dia.
Às vezes repetitiva? Sim, claro!
Não poderia ser de outra forma, tendo em vista as circunstâncias.