Fabio Shiva 28/09/2010
Nessa continuação ficam evidentes...
...o carisma e a força que Falstaff adquiriu junto ao público. Falstaff ganhou ainda mais importância e destaque. Se na parte I, as cenas com Falstaff eram um contraponto cômico à narrativa histórica sobre o rei Henrique IV, podemos dizer que aqui é o contrário que acontece. A peça trata principalmente das reinações de Falstaff e seus companheiros, e a parte histórica serve de contraponto dramático!
Tamanho foi o sucesso obtido por Falstaff que conta-se que a Rainha Isabel pediu a Shakespeare que escrevesse uma peça só para contar os amores do gorducho trapaceiro. O resultado foi “As Alegres Comadres de Windsor”, escrita por Shakespeare em apenas quinze dias para atender o desejo da Rainha de ver novamente Falstaff no palco.
Essa talvez seja a explicação também para Falstaff ter sido suprimido de “Henrique V”, o encerramento da tetralogia. Master Shakespeare deve ter ficado empanzinado com tanto sucesso de seu personagem...
As cenas cômicas têm para um leitor de hoje um sabor todo especial. Afinal são piadas que fizeram as pessoas gargalharem há quatrocentos anos atrás!
Uma ideia desse sabor ocorre na cena em que Falstaff está recrutando soldados para defender a coroa do rei. Olha a lista dos nomes dos recrutados: Mofado, Sombra, Verruga, Fraco e Bezerro. Mofado e Bezerro, os dois melhores, oferecem dinheiro ao recrutador e escapam do alistamento.
Curiosamente o tradutor colocou os nomes dos recrutas assim em português, mas manteve o nome do Juiz Shallow (Raso) no original. O nome do outro juiz é Silêncio. Acho que entendi porque o tradutor agiu assim. Que viagem! Durante a cena ocorrem verdadeiros bombardeios de jogos de palavras e aliterações. O tradutor preferiu manter a sonoridade do “S” de Shallow (vibrando junto com Silêncio e Sombra), sacrificando o sentido, ou então... será que a palavra “shallow” não tinha esse significado na época de máster Shakespeare?
Vou procurar um texto online em inglês dessa peça!
A peça traz algumas inovações, tais como a introdução que é feita pelo Rumor, e o epílogo declamado por um dançarino. Os dois assumem a seu modo a função do corifeu da tragédia grega.
OBS: eu sabia!!! Eu sabia!!! A leitura dessa peça confirmou uma antiga suspeita: William Shakespeare é uma das maiores influências literárias de Isaac Asimov!!!
Quando comecei a ler Asimov em inglês fiquei surpreso com a sua maneira de ordenar as frases e expressar imagens. Há toda uma elegância em seu texto que me parece invisível nas traduções que li.
Principalmente na série “Foundation” (“Fundação”), senti essa influência do Bardo nas falas, na construção dos personagens e até na sequência das cenas.
Pois então! Ocorre em “Henrique IV” uma reviravolta bem ao sabor das histórias de “Fundação”. Ou melhor dizendo: a cena da batalha tem o mesmo senso de humor!
Para ler online:
Em português:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/henry4b.html
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em inglês:
http://www.shakespeare-literature.com/Henry_IV,_part_2/index.html
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nomes dos personagens em inglês:
http://www.sparknotes.com/shakespeare/henry4pt2/characters.html
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Pelo que li, ficou valendo a alternativa A no caso da tradução de Shallow! O tradutor optou pelo significante, em detrimento do significado... :)
Não chega a ser um crime. Ao contrário! É uma prova de amor ao Bardo, traduzi-lo com tanto cuidado!
A tradução é de Carlos Alberto Nunes, de 1954.
(28.09.10)