Naty__ 13/03/2020Neste livro de estreia, a autora conta a história da garota Raami, de apenas 7 anos, mas que já passa por grandes problemas como se fosse uma adulta. Ela sofre de poliomielite e passa por algumas limitações em seu dia a dia, uma delas é andar. A garotinha é uma princesa, seu pai é descendente do rei Sisowath, ele foi educado no exterior e acabou se tornando um desiludido com o governo cambojano corrupto.
A família de Raami vivia muito bem numa casa considerada de luxo, se levada em consideração o poder que eles tinham e ainda possuíam vários funcionários para auxiliar nas tarefas necessárias. No entanto, algo ruim estava prestes a acontecer e não demorou a chegar. A revolução bateu às portas no Camboja, soldados revolucionários do Khmer Vermelho invadiram diversas casas, mandaram que todos se retirassem e a casa da família de Raami não ficou de fora.
Eles foram arrancados de casa e levados a um lugar desconhecido, uma aldeia estranha sem segurança, liberdade e alimentação farta. Todos foram encaminhados para permanecerem juntos, passam por humilhação, trabalho forçado, cansaço excessivo, violência, fome, execuções brutais e epidemias devastadoras ameaçam a sanidade desses prisioneiros. É uma descrição chocante e que emociona qualquer leitor.
Quem pega esse livro em mãos deve estrar preparado para a carga pesada de drama e muita dor. Os personagens são carregados de personalidades e a história é cheia de sentimentos que tornam tudo real. Quem adentra na história não consegue se desprender sem antes finalizar a leitura com uma sensação de ingratidão. Temos tantas coisas, temos a oportunidade de ir e vir de nossas casas, trabalhos, escola, faculdade, mas quantos são aqueles que realmente valorizam isso? É tão mais fácil reclamar do sol escaldante, do frio excessivo, do trabalho desgastante e das aulas chatas. Mas quantos são aqueles que queriam estar em nosso lugar? Ter uma cama confortável, um lugar para se distrair e até mesmo nem que seja apenas para se alimentar.
Esse livro é uma lição que podemos comparar com as histórias ocorridas na África. Quantas pessoas, em especial as crianças, sequer podem comer porque não tem um alimento? Suas refeições são regadas a biscoito de lama com água suja. É impossível não reconhecer que somos ricos e temos tudo do bom e do melhor, mesmo que um dia falte um determinado alimento na mesa ou o luxo de ir ao Shopping fazer o passeio que tanto queria.
Para quem não sabe, a autora tinha cinco anos de idade quando o Khmer Vermelho assumiu o poder, em 1975. Depois de quatro anos de trabalhos forçados, fome e risco de execução, ela e sua mãe fugiram enquanto muitos membros de sua família morreram. Em 1981, ela chegou aos Estados Unidos como refugiada, sem saber inglês, e, em 1990, formou-se no Ensino Médio e foi oradora oficial da turma. É uma grande história tanto da autora quanto da obra escrita por ela.
A capa é lindíssima e a diagramação não fica atrás. Recomendo a leitura e com ela estarão embutidos choros, emoção e muito drama. Valerá a pena cada um!
Quotes:
“- Restarão poucos de nós descansando à sombra da figueira-de-bengala - a Rainha Avó murmurou de novo, e eu não entendia por que as pessoas loucas sempre sentiam necessidade de dizer a mesma coisa duas vezes.
- A luta vai continuar. O único lugar seguro é aqui, debaixo da figueira-de-bengala.”
“Um jovem pai passou carregando um filho nas costas e outro na frente, e no resto do corpo os fardos e itens necessários: comida, utensílios de cozinha, colchonetes, travesseiros, cobertores. Sua mulher, com uma criança no colo e outra a caminho, segurava forte o braço dele enquanto seguiam pela rua movimentada. Um adolescente passou por eles segurando com as mãos seu estômago, que sangrava, enquanto tentava procurar ajuda. Nenhuma ajuda apareceu. Eu via um milhão de rostos de uma vez, e todos eram iguais. Assustados. Perdidos.”
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2016/02/resenha-sombra-da-figueira.html