spoiler visualizarnatonha 02/11/2024
Depois de quase cinco meses lendo um trechinho desse livro praticamente todos os dias, não sei muito bem como me despedir dele. Me apeguei aos personagens, apesar de tantos nomes aparecerem durante as 1500 páginas de história. Victor Hugo conseguiu reunir muito bem a ficcção com partes históricas relatadas durante a trajetória de Jean Valjean, ou Senhor Fauchelevent, ou Pai Madelaine, como preferir chamá-lo. Achei a estrutura tão bem amarrada, todos os pontos sendo respondidos no final e cada personagem com uma função de fato na narrativa, não aparecendo apenas por aparecer. Me afeiçoei muito por Jean Valjean e, apesar da linguagem difícil ou monótona em alguns momentos (principalmente nas descrições da batalha de Waterloo), o autor ainda assim conseguiu manter o ritmo e eu ainda me sentia ansiosa para saber quais seriam os próximos passos dos principais. Até mesmo em trechos mais lentos, como quando Victor Hugo detalhava as construções dos esgotos parisienses, você consegue perceber que aquilo vai ser importante para você, como leitor, se situar na história e entender o que Jean Valjean vai precisar enfrentar carregando Marius após o ataque à barricada, por exemplo. Situações assim acontecem com frequência durante a leitura e é uma grande riqueza em detalhes à todo instante. E O FATO DE QUE O AUTOR NÃO SE PERDEU EM NENHUM MOMENTO EM SUA NARRATIVA, TENDO TANTAS COISAS PARA EXPLORAR E EXPLICAR AO LEITOR, E SABENDO RETORNAR AO TÓPICO EXATAMENTE DE ONDE PAROU. Isso é muito incrível, de verdade!
Minha única ressalva é que nessa edição há alguns trechos traduzidos que me soam racistas e que poderiam ser facilmente traduzidos de outra forma; acredito que seja da própria tradução de fato. Algo que as próximas edições poderiam procurar melhorar já que estamos em 2024!!!
Tirando isso, a história é muito rica, te faz pensar o tempo todo sobre a vida em geral e como as coisas são tão injustas. Me peguei preocupada com o destino dos secundários como Fantine, o coronel Pontmercy, até mesmo a forma como Javert se foi. Os filhos dos Thénardier, todos largados à sorte deles mesmos, em especial o Gavroche...
Sem falar na relação linda de Jean Valjean e Cosette, a delicadeza desse vínculo paternal que aconteceu de forma acidental (ou algo planejado pela "Providência", como talvez o autor poderia se referir). Lindo, lindo, lindo!
Bem, não sei mais o que acrescentar. Acho que o ponto aqui é simplesmente começar a ler, sem se importar com a quantidade de páginas. Apesar de ser um livro extenso, você se pega lendo tão tranquilamente, uma vez que a leitura te envolve de tal forma, que só vai se dar conta quando estiver na metade dele. Uma experiência única! Quero conhecer outros títulos do autor em um futuro próximo.
"A natureza, e cinquenta anos de intervalo, haviam colocado uma separação profunda entre Jean Valjean e Cosette, separação que o destino preencheu. O destino uniu repentinamente e ligou com seu irresistível poder aquelas duas existências sem raízes, diferentes pela idade, semelhantes pelo luto. Efetivamente, uma completava a outra. O instinto de Cosette procurava um pai assim como o instinto de Jean Valjean procurava um filho. Encontrarem-se foi encontrar isso. No momento misterioso em que suas mãos se tocaram, uniram-se. Quando essas duas almas se avistaram, reconheceram-se como necessárias uma à outra e abraçaram-se estreitamente." ??