spoiler visualizarJeanpaia 06/06/2024
Os Miseráveis.
Escrito por Victor Hugo, e publicado em 1862, Os Miseráveis é simplesmente uma das maiores obras da literatura mundial, e com certeza uma das mais grandiosas da minha vida.
demorei um pouco menos que 2 meses para finalizar a leitura, mas a sensação que tenho é que vivi cada ano que se passou na narrativa junto dos personagens.
sinceramente, ao longo das 1511 páginas, eu pude me conectar tão profundamente com cada personagem e com o autor de uma forma que nunca me tinha acontecido antes, a ponto de sofrer por eles como se fossem amigos íntimos, e de fato sentir a presença deles enquanto lia.
o Victor Hugo consegue construir personagens de uma forma magistral, pois cada um deles é extremamente humano, com defeitos, com lados bons e ruins, mas que ainda assim conseguem ser grandiosos e extremamente cativantes. cada um deles me marcou profundamente e vou me lembrar com muito carinho os momentos que pude viver com essa obra pelo resto de minha vida.
é uma história poderosa, maravilhosa, cruel, empolgante e extremamente triste. em diversos momentos o leitor certamente poderá sentir raiva, angústia, pena, revolta, animação, felicidade, etc.
ler esse livro se fez parte de meu cotidiano durante esses dias, e como previ, senti um vazio enorme ao finalizar a leitura. ainda estou impactado completamente.
entretanto, como toda obra, existem os pontos negativos, e aqui se trata das digressões constantes e extensas que o Victor Hugo escreveu.
em diversos momentos a história se encontra em um ritmo muito bom e que é impossível para de ler, mas subitamente é interrompido por uma descrição de algo completamente à parte da história (como a gíria dos ladrões) por vários e vários capítulos.
em alguns casos, o conteúdo tem certa participação e importância na narrativa, mas o autor se perde completamente e escreve muito mais do que deveria, quebrando totalmente o ritmo e sua empolgação com a história.
os momentos do tipo mais marcantes que tive foi sobre Waterloo e a história do convento de Fauchelevant.
após ler muito deste tipo de desvio de rumo, me acostumei, e essas enrolações passaram e me incomodar menos, mas ainda assim não deixo de recomendar alguma edição mais reduzida para quem quer aproveitar unicamente a história ou para alguém que não tem o hábito de ler.
tirando isso, o livro é perfeito em sua construção de narrativa e personagens. as situações criadas por Hugo também são sensacionais e não deixam uma ponta solta sequer (ao menos não identifiquei), e conseguem sempre impressionar o leitor.
sobre os personagens, quero falar sobre os principais, e aviso que a partir de agora terá spoilers que podem prejudicar potencialmente a experiência de quem está lendo.
Jean Valjean: o personagem principal da obra e consequentemente, quem a move. Jean é o personagem mais bem escrito e construído do livro, sendo sem dúvidas o mais humano e mais fácil de se conectar. é um personagem que fala pouco, mas que age muito e que tem uma alma grandiosa. em todos os momentos que o Jean aparece, ele está ajudando alguém de alguma forma, mas como Hugo não tem piedade para nos mostrar a realidade humana, ele sempre sofre nas mãos de todos que se relaciona. é um personagem extremamente inteligente e habilidoso, que não se esforça muito para enriquecer, mas que sempre é forçado a ser um miserável, pelo seu passado e pela falta de aceitação na sociedade.
durante todo o livro, em nenhum momento o Jean é de fato aceito pelas pessoas, pois sempre que descobrem sua verdadeira identidade, o julgam e o condenam por ser um antigo forçado, um antigo prisioneiro que por sinal, foi preso apenas por tentar salvar a vida de seus sobrinhos.
o máximo de aceitação que o Jean pôde receber durante a obra foi por parte do Bispo e de Cosette. o bispo, por ajudá-lo mesmo quando sabia de sua identidade, e Cosette, por poder lhe dar o amor que nem ele e nem ela puderam receber.
é um personagem icônico, marcante, cativante e emocionante, e é do tipo que não sairá da mente de ninguém que ler.
Cosette: após ser salva por Jean de uma família adotiva que a maltratava de diversas formas, Cosette passa a ser a segunda personagem mais importante da história, e a terceira que mais nos faz chorar. é uma personagem amorosa, pura, ingênua e amável. é a única fonte de felicidade de Jean, e na obra, é a nossa maior fonte. é a personagem que traz um brilho de esperança para nós, que até então só víamos desgraça e tragédias durante a narrativa. é a personagem que nos faz sentir algo leve e sincero ao ler suas falas e ações. só a Cosette já é uma obra prima por si só.
Marius: Marius Pontmercy é o terceiro personagem mais importante, e um dos mais cativantes.
Marius é singular, é possuidor de uma personalidade forte e bastante agradável, nos trazendo momentos de risos e choros. em alguns momentos sentimos raiva do personagem por escolhas ruins que são tomadas por ele ao longo da narrativa, mas não são nada que prejudiquem o brilho que o personagem carrega.
o relacionamento dele com a Cosette é muito bem construído e é um dos casais que mais possuem química que já vi na vida. sinceramente, eu amo cada trecho em que os dois estão juntos.
seu passado, seus momentos de miséria e sua relação com seu avô também são igualmente bem escritos e trazem uma profundidade e complexidade pra esse indivíduo que poucos conseguem fazer.
Javert: o principal antagonista da obra e um dos mais fascinantes. sinceramente, ainda acho que Javert merecia um espaço a mais na obra.
o que mais me marcou nesse personagem é suas aparições que sempre me surpreendem. do início ao fim ele está a um passo de prender nosso querido Jean, e por pouco não consegue.
começamos odiando Javert, mas terminamos o amando e lamentando seu destino cruel. é sensacional e extremamente bem escrito.
Fantine: para finalizar, eu não poderia deixar de mencionar a nossa querida Fantine, que se trata da personagem com menor participação do livro inteiro (tendo até menos que o Bispo, creio eu), mas uma das mais icônicas e estupidamente bem construídas de todos os livros que já li. se Cosette não é a segunda que mais nos faz chorar, é porque a Fantine toma essa posição. os momentos em que ela está em cena destrói o coração de quem lê sem nenhuma piedade, e nos faz chorar sem parar.
carregarei esse personagem para sempre em meu coração.
Os Miseráveis não fala apenas da pobreza como forma material, mas também da miséria de caráter e sentimento. personagens como Javert e Thenardier são os maiores exemplos disso, e esse fator é muito bem explorado por Hugo, que não deixa um só personagem do livro raso ou sem graça.
além disso, é um livro que nos ensina a história e as dinâmicas sociais de Paris com mais maestria que qualquer escola, pois podemos enxergar a cidade na época, todas as pessoas, costumes, revoluções, locais, gírias, sem nunca termos tocado em Paris na vida real. é tudo muito vivo e crível, e nos faz parecer que estamos viajando no tempo até o século XIX para dar voltas sobre aquela Paris e observar as dinâmicas sociais e econômicas.
sem dúvidas lerei mais obras do Victor Hugo e tenho certeza que também serão sensacionais. este livro é mais do que arte, é uma experiência, uma vida.
obrigado Victor Hugo, e lhe perdôo por todo o estresse que você me fez passar com todas as suas enrolações.
"Enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis".