Quincas Borba 14/12/2023
"Enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria,
Livros como este não serão inúteis."
"Os Miseráveis" é um romance épico de ficção histórica, escrito por Victor Hugo, lançado em 1862. Acompanhamos a história do ex condenado Jean Valjean que, por passar dezenove anos preso por roubar um pão, se embruteceu, mas é colocado no caminho do bem pelo bispo Myriel. Assim, seguimos Valjean em suas desventuras e sua jornada para se tornar um homem bom, enquanto tenta sobreviver na França caótica do século XIX.
Como começar a falar de um romance tão bom? Tão incrível, memorável, bem escrito, engraçado, triste, que causa todos os tipos de emoções, criando um enorme furacão?
A escrita de Victor Hugo é singular. A forma como ele descreve as emoções dos personagens, suas indecisões, situações psicológicas, motivações, e etc. Aqui tem cenas que me fizeram chorar diversas vezes, além de linhas que me deixaram alegre, triste, com medo, um turbilhão de emoções que eu nunca havia sentido antes.
E não só isso! Ele também descreve os lugares, as situações que fazem os lugares serem o que são, algo que adiciona e muito quando vemos os personagens naquele ambiente.
E não é só isso! Hugo também relata, de um olhar histórico, sociológico e filosófico a França do século XIX, com todas suas tubulações, reis, leis, polícia, povo, gírias, esgotos, Napoleões, Luíses XVI, a massa, etc. Diversas vezes o leitor se encontrará lendo sobre a batalha de Waterloo e sua importância na história europeia, ou uma eulogia a Luís Filipe de Orleans, ou um tratado sobre os esgotos de Paris e como melhorá-los, ou uma descrição da figura e do comportamento das crianças de rua abandonadas em Paris, ou como insurreições surgem e suas legitimações, e muito, muito mais! Hugo explora a França, que eu argumentaria ser um personagem próprio do mesmo jeito que Jean Valjean é um!
O melhor aspecto desse livro são as relações humanas e suas descrições. Vemos como pessoas se relacionam, o que pensam, o que irão fazer, o que tramam, o que sentem naquele momento, como vão reagir a algo, como tal personagem se relaciona a outro, um personagem que apareceu em um capítulo lá atrás reaparecendo de surpresa, em meio a reviravoltas, barricadas, sangue, amor, religião e política. É perfeito. Junto de seus personagens memoráveis, Victor Hugo faz nos questionar até os abismos mais profundos das almas humanas com as relações entre os personagens: a caça de gato e rato de Valjean e Javert; o amor de Marius e Cosette; a injustiça sentida pelos Amigos do ABC; o atrevimento e a vivacidade de Gavroche; as discussões políticas entre pessoas, como a de um político da Revolução com o bispo, ou entre o avô Gillenormand e o seu neto Marius; o mal representado pelo sr. Thernadiér; a pureza corrompida em Fantine; a inocência em Cosette; até Napoleão aparece como um personagem complexo; e, por fim, a França de Hugo, dividida entre República e Monarquia, miséria e luxo, civilização e barbárie.
Já digitei demais, mas eu recomendo com toda a certeza a leitura de "Os Miseráveis" em algum momento da sua vida. Se prepare antes, claro, adquirindo uma bagagem de conhecimento da história da França na primeira metade do século XIX e o básico da vida do autor. Junte-se a essa jornada que é "Os Miseráveis", o melhor livro que eu já li na minha vida.
Obrigado por ler!