Analuz 09/10/2022
Incrível
O mundo tem uma porção de autores considerados "clássicos" ou cujas obras são chamadas de canônicas. E, dentre os que li, um dos que mais se destaca em estilo e conteúdo é, definitivamente, Victor Hugo. Que baita calhamaço, meus amigos!
Através deste livro romântico - que foi escrito após a vigência da escola romântica - é que somos introduzidos à jornada de Jean Valjean e à sua fuga do incansável antagonista Javert, além dos demais personagens que, juntos, compartilham o protagonismo da história. Assim, conhecemos Fantine e Cosette, vítimas dos vilanescos e oportunistas Thérnardier, além do idealista (e, por vezes, irritante) Marius. Em um arranjo de encontros e desencontros que só o Romantismo pode nos proporcionar, nos encantamos, odiamos, rimos e choramos com estes personagens.
Uma coisa que destaca "Os Miseráveis" das demais ficções históricas são as incursões narrativas acerca do passado da França, ora muito interessantes, ora incrivelmente enfadonhas. Victor Hugo não nos poupa ao dar detalhes sobre seu país, na tentativa de fazer papel de historiador (que, por vezes, fornece informações equivocadas) e, assim, fornece vislumbres dos movimentos políticos acontecidos, fossem os prévios Revolução Francesa e período napoleônico, fosse o vigente período da retomada da monarquia.
A obra se inicia com os percalços do ex-detento Jean-Valjean, que, de posse de um passaporte amarelo (o qual denuncia seu passado de transgressão à lei), não é aceito em nenhuma cidade para se abrigar. Ao conhecer um justo, modesto, acessível e caridoso bispo (aliás, um excelente caso de homem que segue o Evangelho, como o próprio livro sugere), que "compra" a alma do protagonista em nome de Deus, o personagem vê, finalmente uma oportunidade de mudança, podendo recomeçar sua trajetória e enterrar seu passado. Mas bem sabemos que o passado jamais consegue ser enterrado, e muito menos na literatura!
Com isso, ainda que aos trancos e barrancos e manchado por seus atos prévios, Jean-Valjean tenta recuperar um modo minimamente digno de viver, além de tentar retribuir para o mundo a caridade que um dia o clérigo o havia concedido.
É perceptível que, mesmo não sendo uma obra de teor evangelizador, há um forte valor cristão na trajetória de Jean-Valjean que é visto desde a introdução da figura do bispo Myriel até as páginas finais da história (cuja conclusão é belíssima e emocionante, diga-se de passagem)! Arrisco-me a dizer que, após a leitura, meu hall de personagens favoritos da literatura ganhou mais dois nomes: o do conturbado e humano Jean-Valjean; e o do adorável menino Gavroche, que luta por seu país em nome de justiça, tentando sempre ajudar os seus. Além disso, é claro que a obra é inteiramente embebida de críticas ao sistema legal da França, cuja justiça era paradoxalmente injusta para Victor Hugo.
Apesar da lista de personagens que citei até então, acho que seria prepotente dizer que o protagonista é apenas Jean-Valjean. Ora, a partir de todas as desigualdades e cenários degradantes expostos pelo autor, fica evidente que, quem é miserável, no fim das contas, é a França. Ou melhor, a população francesa. Temos aqui um livro romântico que transpõe os pensamentos de Victor Hugo para as páginas, em que ele fala sim de sua pátria, mas de uma pátria miserável!
Enfim, "Os Miseráveis" é um livro que prende, com muitas reviravoltas e passagens de tirar o fôlego, fazendo jus à fama da obra.
P.S.: foi só eu ou alguém mais sentiu raiva da Cosette nas últimas partes do livro?
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