Aline 30/08/2015
Janela Literária apresenta a resenha de "Os Miseráveis", do espetacular Victor Hugo:
Talvez essa seja a resenha mais difícil que farei na vida. Me sinto nervosa, ansiosa e temerosa sobre como posso começa-la. Sinceramente, tem certas obras literárias que não são comuns como as outras e Os Miseráveis é uma delas. Essa obra é um marco para a humanidade e extremamente importante para toda a sociedade, seja antiga ou até mesmo, atual. Essa obra foi feita em 62 anos e quem somos nós para ter o direito de falar sobre algo criado não apenas com o coração, mas com a vivência na pele e fogo no âmago do ser?
Nós somos os leitores crus e superficiais que amam ler qualquer coisa que nos satisfaça. Os Miseráveis é um livro que pode te satisfazer ou até mesmo, te entediar, mas nunca fale que ele é um livro ruim, pois, tem uma importância enorme para todos nós. Victor Hugo nos embarca para histórias de pessoas extremamente indigentes, assim como temos também, o retrato de pessoas extremamente nobres. Temos a bondade encarnada e a maldade recuperada. Temos aqui, as motivações para o bem e as entregas para o mal.
Os Miseráveis tem 3 vertentes: uma história ficcional, relatos de histórias reais e descrições de locais ou mesmo personagens. É um livro completo, acompanhado de ficção, história, política e religião. Não se trata apenas de uma obra literária comum. É uma crítica a sociedade e a desigualdade dela. Só que Victor, não apenas pretende julgar o mal da civilização, como quer justificar porque ele julga. Ele conta e descreve como os miseráveis vivem, comem e dormem e nos mostra a realidade da miséria de forma pueril e realista. Não tem como ser a mesma pessoa após ler e se fascinar com a tristeza alheia descrita de forma tão terna nessa obra. É tão realista, que Hugo justifica o mal como "imperdoável", mas existente em algumas pessoas, o que é inevitavelmente lamentável.
Muitos dizem que Os Miseráveis é um livro de 1300 páginas que tem 600 páginas excelentes, que são as páginas de sua ficção. Eu não posso discordar disso. Era muito difícil tentar ler alguns itens da história que eu não queria ler no momento. O autor parava a história no meio para contar alguns detalhes e descrever sobre os esgotos de Paris, ou os até mesmo, de seus conventos. Era triste ter que parar tudo isso, mesmo sabendo que a crítica dele era extremamente válida. Confesso que me entediei com as histórias de guerra de Napoleão, era demais pra mim ler tudo aquilo e ver que a ficção fora deixada de lado. Obviamente devemos admitir que isso mostrou que Hugo é um autor versátil, um verdadeiro gênio por explorar diversas definições literárias, mas não tirou o tédio de mim e me sinto culpada por sentir isso ao ler essa história. As primeiras 70 páginas apenas descrevem um personagem, o que é realmente triste.
A parte ficcional é tão espetacular que não há palavras para descrever. Conhecemos a história de Jean Valjean, um miserável que por roubar pão, ficou encarcerado por 19 anos e após ter o perdão de seus erros por um padre, se recupera e se torna um bem feitor de uma cidade. Vemos também a história da triste e bela Fantine que abandona a filha para conseguir trabalhar por ela e Cosette, filha de Fantine, maltratada pelos seus criadores, que não consegue enxergar alguma esperança futura. Jean Valjean é um personagem inacreditável de tão incrível, sendo que torcemos por ele em todos os momentos da obra. Sua redenção é tão fascinante que nos conquista totalmente e o mais interessante é como os personagens se encontram e como os futuros de todos se conectam. Vemos também o vilão inescrupuloso Thenadier e o autoritário Javert, assim como conhecemos o doce Marius. Personagens que possuem suas vidas esclarecidas por nós antes mesmo que eles encontrem uns aos outros. Hugo faz questão de nos mostrar suas almas antecipadamente, sim nós leitores, temos tal privilégio.
A crítica social da desigualdade é o ponto chave da história. Temos aqui a inocência dos personagens em poderem amar mas viver numa sociedade que aparentemente, não se importa com eles. Um livro socialista, mas plenamente justificável. Uma sociedade odiosa e infalível que escraviza os menos favorecidos. Acompanhamos a vida de crianças de ruas e até mesmo, a eloquência de nobres e soldados de guerra. O desenrolar do ficcional nos encanta e nos deixa ansiosos. Os sentimentos de pena, amor e ardor toma conta da gente e torcemos com insistência que o final seja feliz, o que realmente não acontece. Uma história marcada pelo memorável que mexerá sempre com todos que a leem.
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