Lu Muniz 22/09/2016
Inspirador
Poder Extra G, de Thati Machado, é um romance com muito doce de leite, generosas doses de autoestima e uma escrita impecável.
Os primeiros capítulos da narrativa já prendem o leitor, por si só, pela forma como a autora conduz as ações e os fluxos de consciência da personagem principal, sempre como muito bom humor e, até mesmo, certa dose de ironia.
O enredo vem apresentar ao leitor, através da jovem Nina, toda a quebra de padrões de beleza impostos pela sociedade atual. A protagonista, desta forma, aparece como a voz que denuncia todo o preconceito que gira em torna de pessoas obesas e expressa toda a sua satisfação em quebrar esses estereótipos, mostrando o quão feliz e realizado alguém com os quilos “a mais” pode ser. E é o amor e respeito de Nico, um argentino gato e fofo, a mola propulsora para isso. Cenas de amor e de sexo são tratadas com palavras que permeiam a sutileza e a delicadeza, dando um ar poético e encantador à história.
O grito de Nina pela liberdade de suas escolhas e de respeito pelas escolhas do próximo ecoa a cada página. Respeito às diferenças e ao direito de ser feliz! É esse o ponto de partida para essa história muito bem contada e, mais do que isso, confortadora para quem vivencia os mesmos percalços que a personagem.
O livro, no entanto, vai além de refletir e denunciar a carga preconceituosa que existe nas peças de roupa com etiqueta XG. Ele avança pelo universo das pessoas que são diagnosticadas com transtorno de identidade de gênero, desmistificando “transtorno” como um problema e “diagnóstico” como doença. O personagem Noah prova a cada capítulo que “ser” não é um estado, é uma condição que não precisa de aprovação, mas de respeito.
Thati é uma autora como poucas. Daquelas que tem preocupação com as palavras, com a Língua Portuguesa em si. Daquelas que tecem os fios que decodificam o sentido para os conflitos da vida, da existência de cada um. Daquelas que misturam a arte de escrever romances cheios de sensibilidade e amor em gritos de liberdade de uma sociedade que tem muito que aprender sobre igualdade e respeito. A cada início de capítulo, um rabisco preto com algumas curvas simboliza a reafirmação da beleza do ser humano em ser heterogêneo e perfeito em suas imperfeições.
Thati Machado é daquelas autoras que denunciam os males do mundo com o humor e a graça de quem deseja libertar quem é prisioneiro de si mesmo.