spoiler visualizarAghata14 12/09/2024
Pertencer a um lugar.
Audre Lorde que mulher incrível, me conquistou com o seu jeito de escrever e pela sua vontade de se fazer ser ouvida.
Eu me questiono por que mulheres incríveis em algum momento de sua vida passam por situações tão difíceis? Tudo bem que a vida não é fácil, mas caramba?.
A gente lê, fica com um aperto no coração e com uma vontade enorme de abraçar essa pessoa.
Em Zami, Lorde abre o seu coração, revisita as suas memórias, desde quando era apenas uma garotinha cheia de perguntas, que morava com seus pais e duas irmãs.
Uma garotinha que desde tão cedo já teria que aprender o que era racismo. Por que nem crianças pequenas eram poupadas de pessoas assim. Teria que lidar com
Lorde conta das situações em que alguém cuspiu em seu casaco ou sapato e a sua mãe rapidamente limpava porque estava preparada e era apenas uma garotinha.
Em uma outra situação, sua família queria apenas tomar um sorvete em um dia quente, entraram e se sentaram em uma sorveteria, até que a atendente diz que não poderia atender eles e são obrigados a sair do lugar.
Como explica para uma criança essa situação?
Eu sei que é algo da época e que ainda perpétua hoje em dia esse jeito de mães e pais de lidar com seus filhos, um jeito seco, parece que é impossível tratar a criança com respeito?
Por mais absurdo que possa parecer ou apenas uma tempestade em um copo d?água mas crianças também tem que aprender a lidar com frustrações e com certeza não é com a mãe lhe passando um sermão.
Não sei se é porque já li outros textos da Lorde ou se apenas uma sensação que a leitura de uma biografia te deixa. Você fica com essa estranha sensação como se conhecesse a pessoa fisicamente, acho que a leitura de aproxima mais e humaniza a pessoa que você esta lendo.
Na construção da sua pessoa Lorde, passou por altos e baixos, problemas com a sua mãe que foram motivos pra sair de casa tão jovem, ela só tinha 17 anos quando se jogou ao mundo.
Passou por uma situação de aborto e teve que lidar com tudo isso sozinha.
Precisou lidar sozinha com seus sentimentos, a sua sexualidade e principalmente lidar com o fato de ser uma mulher negra e lésbica e que isso colocava ela em uma posição muito difícil.
Ainda bem que nesta caminha sendo muito nova, pode se dizer que a Audre teve sorte de conhecer pessoas que de alguma forma lhe ajudaram, cada um na medida certa.
?Mesma que imperfeitamente, tentávamos construir uma espécie de comunidade onde pudéssemos, no mínimo, sobreviver dentro de um mundo que corretamente percebíamos como hostil a nós.?
Gostei que a Audre dá uma tirada com a tal da sororidade quando diz ?não só acreditávamos na realidade da sororidade, essa palavra de que abusariam tanto duas décadas depois, como tentávamos colocá-la em prática, com resultados variados.?
?Num sentido paradoxal, uma vez que aceitei minha posição diferente da sociedade em geral, bem como qualquer subsociedade particular ? negra ou gay ?c senti que não precisava me esforçar tanto.
Para ser aceita. Para parecer femme. Para ser hétero. Para parecer hétero. Para ser recatada. Para parecer simpática. Para parecer apreciado. Para ser mais amada. Parar ser aprovada. Eu não percebia como, para mim, era muito mais difícil tentar me manter viva, ou melhor, me manter humana. E como me tornei forte nesse esforço.?
Gosto também como ela apresenta outras ideias quanto ao ser progressista, como exemplo a sua amiga Rhea que apesar de compartilhar ideias como as suas, não aceitava mulheres lésbicas e aí a Lorde diz:
?Qualquer mundo onde eu não tivesse espaço para amar mulheres não era um mundo onde eu gostaria de viver, nem pela qual eu poderia lutar.?
Que progressistas são esses? Preconceituosos? Que não aceitavam mulheres homossexuais? Ainda bem que hoje em dia essa mentalidade mudou (aparentemente).
Lorde também relata a dificuldade de ser assumidamente gay dentro da própria comunidade.
?Já era difícil o suficiente ser negro, ser megera, ser negra e gay.?
?Parecia que a mensagem importante era pertencer a um lugar.?
Em uma sociedade que exclui mulheres, segrega mulheres negras e homossexuais, é imprescindível você abraçar esses pequenos grupos que simbolizam uma união, uma proteção de um mundo que te apedreja por ser apenas você.
?Passaram-se anos antes de aprendermos a usar a força que a sobrevivência diária podia nos trazer, antes de aprendermos que o medo não tinha que nos paralisar e que podíamos apreciar umas às outras em termos que não eram necessariamente os nossos.?
Que livro perfeito, termino ele chorando por algum motivo, conhecer Audre Lorde dessa maneira, uma mulher incrível e que partiu tão cedo.
?Zami. Um nome de Carriacou para mulheres que trabalham juntas como amigas e companheiras.?