Angelo Miranda 21/11/2014
Um conto sobre o Cristo
Um conto sobre o Cristo
Que nasceu depois da década de 1960, como eu, provavelmente conheceu a história de Ben-Hur pelo cinema, naquele clássico filme que faturou nada menos que onze estatuetas do Oscar e que consagrou o ator norte-americano Charlton Heston no papel de Judah Ben-Hur, um judeu contemporâneo de Jesus Cristo e que experimentou as agruras do império romano.
Acredito que poucos sabem, mas na verdade, Ben-Hur foi baseado no livro homônimo escrito pelo norte-americano Lew Wallace e publicado em 12 de novembro de 1880. O livro é considerado a obra-prima do escritor, que fez imenso sucesso. As primeiras edições venderam mais de 1 milhão de exemplares, sendo considerado por parte da crítica o romance mais lido do século XIX.
Wallace decidiu inserir Jesus Cristo na sua ficção devido à uma aposta feita por um amigo. Avesso à religião e a crença na existência de Deus e de Cristo, Wallace foi desafiado por um amigo que sugeriu que ele escrevesse um livro provando que Jesus Cristo nunca havia existido, que as escrituras não deveriam ser levadas a sério e que o cristianismo era um mito. Se ele conseguisse fazê-lo, ficaria famoso.
Wallace aceitou o desafio e, durante dois anos, pesquisou a vida de Cristo em inúmeras bibliotecas. Quando resolveu estudar a Bíblia, acabou convencendo-se da existência de Deus. Ele escreveu: “Comecei a escrever um livro para provar que Jesus Cristo nunca existiu e, quando me dei conta, estava provando que Ele de fato existiu”.
Ben-Hur foi um dos primeiros romances religiosos a desenvolver uma história de ficção sobre a Bíblia, mas é uma história desenvolvida sem um caráter “catequético”, pelo contrário, a história foca mais na difícil vida em que o jovem Ben-Hur levou nos tempos do Império Romano. Apenas em algumas belas passagens o jovem encontra-se com Jesus Cristo.
A criatividade do escritor reside no fato de ele ter conseguido entrelaçar a vida de Jesus Cristo com uma bela história cheia de aventuras ambientada no século I, sendo o personagem principal contemporâneo de Cristo.
O livro faz uma importante reconstituição histórica e é um marco na literatura, pela capacidade do autor de transportar o leitor para a realidade de uma época tão antiga.
Depois de lermos Ben-Hur, tudo o que estudaremos sobre a vida de Jesus ou sobre a história do Império Romano terá outra dimensão; será tudo vivo, palpável, real.
É uma pena que a edição do livro que eu li seja adaptada. Gostaria mesmo de mergulhar na história escrita pelo próprio autor, para degustar diretamente da sua escrita, do seu estilo, da forma como que construiu as cenas e conduziu os personagens. A adaptação perde muito nesse aspecto.
Encontrar a obra integral do escritor é praticamente uma raridade. Encontrei recentemente numa visita ao sebo, um exemplar de Ben-Hur, mas num estado paupérrimo. Tive a impressão que ele não chegaria inteiro do centro de São Paulo até em casa. Resolvi não adquiri-lo.
Nesse sentido é que eu defendo o livro digital. Acredito que livros fora do catálogo, por serem antigos ou por outros motivos, poderiam ser relançados em formato digital, já que o livro físico talvez não tenha saída nas livrarias. Atenção editoras!