Carol Cristina | @blogacdh 27/06/2016Resenha postada no @blogacdhNessa história acompanhamos uma parte da vida de Mariana Almeida Ribeiro, carioca, recém formada em Direito, e cuja família faz parte da classe alta do Rio de Janeiro. No começo do livro, Mariana está prestes a se casar com Gustavo Motta, outro membro da classe alta. Voltamos brevemente no tempo, vendo como os dois se conheceram, a dinâmica do namoro... Percebemos que não é uma relação muito saudável; e lá no fundo, Mariana também sabe disso, mas não enxerga. Até que Gustavo age primeiro, e dias antes do casamento liga para ela e avisa que está apaixonado por uma atriz (que também está grávida dele).
"Melhor evitar um erro do que consertar um desastre maior."
Mariana se vê perdida na vida, nada mais faz sentido para ela. Depois de muitos dias apática, ela tem uma conversa com o irmão mais velho, que a convence a fazer uma viagem para a Chapada Diamantina, na Bahia.
Será que uma viagem poderia dar um novo sentido a vida dela? Será que uma viagem poderia mudá-la? Mariana conhece pessoas diferentes de seu círculo social, que a influenciam em vários aspectos. Também descobre várias coisas sobre si mesma, se dá conta de outras, e passa a se abrir para novas possibilidades. Será que ela vai ter coragem de voltar para a vida real?
"Sim, ela estava livre. Sentiu medo. Por um segundo, visualizou-se como uma criança que dá os primeiros passos sozinha. Ou a quem é permitido pela primeira vez ir até a esquina comprar um chiclete sem a companhia de um adulto. Com a grande diferença que, agora, ela podia escolher não voltar. Partir da esquina para o mundo. Ou para Lençóis, no interior da Bahia."
Mais uma obra nacional que tive a oportunidade de conferir! A autora, Valéria Martins, procurou o blog por email e cedeu o pdf do livro e marcadores do mesmo pra vocês.
Eu gostei da capa do livro, e pela sinopse, imaginei que seria uma história romântica. Mas não, não foi um livro amorzinho; apesar de ter um tom e dizer coisas que, acredito, atingem qualquer mulher que lê-lo. Tem romance sim, mas não é conto de fadas ;)
A matéria dos sonhos é uma leitura rápida, linear e pé no chão. A narrativa é em 3° pessoa, e o livro consegue não ser clichê, mesmo o enredo não tendo grandes mirabolâncias. A escrita da autora é boa; mas factual e economiza no que diz respeito a momentos reflexivos: deixa eles mais pro final, o que é uma pena. Por isso, creio que senti um pouco falta de uma originalidade na narrativa da mesma, de uma característica marcante. Vejam bem, estou falando da escrita, não da história.
Já a história, aparentemente despretensiosa, aborda a importância de conhecer a si mesmo e seus sonhos, de se reinventar. Nos faz pensar sobre felicidade versus acomodação; e a protagonista dá uma aula de amadurecimento. Fiquei até com a ligeira impressão de que a autora baseou-se na história real de alguém.
"– Conhecer a si mesmo e melhorar sempre. “Des-envolver-se” [...]"
O livro tem alguns pontos positivos muito bons: o fato de se passar na Chapada Diamantina é bem interessante: o leitor descobre bastante coisa sobre o lugar e aprende a valorizar mais nossas terras brasileiras. Outra coisa é a quebra de esteriótipos: a protagonista rica e patricinha, mas gordinha; e o mocinho negro (coisas que a gente não vê muito por aí).
Num contexto geral, também percebi que é um livro que exalta bastante a força das mulheres *-* Uma personagem feminina que eu adorei e fez a leitura valer ainda mais a pena foi a Cláudia, que a Mariana acaba conhecendo por acaso. Ela se mostra muito extrovertida e livre, mas ao longo do livro vemos que há toda uma história por trás dela, um pouco triste e com a qual ela prefere não lidar.
Personagens mimadas costumam irritar bem rápido, não é? Mas não cheguei a me irritar com a Mariana: acho que ela vai se permitindo algumas coisas gradativamente, no momento certo, e vai crescendo ao longo do livro. Como eu acabei curtindo o arco da Claúdia, acho que pra mim teria sido até mais interessante que a protagonista fosse ela, e não a Mariana. Digo isso porque eu tive um pouco de dificuldade em "me apegar" aos outros personagens, e não me identifiquei muito com os dramas da protagonista, apesar de serem muito válidos. A mensagem que fica da história toda é bem legal, mas acabou não sendo pra mim. Pra mim realmente não disse muita coisa nova ou marcante, mas para muitas outras pessoas pode dizer.
O título do livro faz sentido beeem lá pro final, eu estava curiosa para descobri-lo!
"– Acho que o sonho já nasce com a gente, mas temos que escutá-lo, reconhecê-lo, valorizá-lo e acreditar nele. Se não acreditarmos, ninguém mais vai acreditar. Nós somos a matéria dos sonhos*. Nós lhe damos vida, corpo e alma."
Um personagem que eu tive ainda mais dificuldade em ter empatia foi o Alex, principalmente porque o desenvolvimento dele na história deixou a desejar, ao contrário dos outros. Não foi um personagem masculino que "me saltou aos olhos". E não sei vocês, mas não curto quando relações surgem "do nada". A Mariana acaba se envolvendo com o Alex durante a viagem; e, apesar de o livro dizer que eles tinham intimidade, gostaria de vê-la acontecendo, ter lido mais conversas e interações entre os dois, além do sexo. Mas depois pensei que, talvez isso foi intencional da parte da autora, para o leitor sentir menos o impacto dos fatos, e enfatizar a mensagem geral do livro.
Bem, apesar das poucas páginas (sim, porque não entendo como um pdf de 95 páginas virou um livro de 290, mas tudo bem XD), o leitor não fica com aquela sensação de "ter faltado alguma coisa" no enredo. A divisão de capítulos que a autora fez poderia ter sido melhor (um tinha 5 páginas, o outro 53), mas é só por uma questão de organização, isso não afeta o ritmo da leitura; e encontrei pouquíssimos erros de revisão no livro.
Eu recomendo a leitura principalmente para mulheres mais maduras, o livro tem potencial de agradar mais esse público. Não acho que ele condiz com o tipo de história que uma adolescente gosta/procura, por exemplo, não sei se agradaria tanto quanto ;)
"[...] ela concluiu que não desejava estar em nenhum outro lugar que não fosse exatamente aquele, naquele momento.
– “O melhor lugar do mundo é aqui, e agora....” – cantarolou a música de Gilberto Gil."
site:
http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com