Levi Kaique 03/09/2017
O Nome de Deus é Misericórdia por Levi Kaique Ferreira
Trata-se de um livro visceral, simples e intimista. Não se pode analisa-lo de outra maneira se não de uma forma espiritual. Esse livro-entrevista esbanja espiritualidade de uma forma simples, abrindo portas para os que desconhecem a profundidade da misericórdia divina e ampliando ainda mais os horizontes de quem acredita conhecer. Seria leviano dizer que é um livro apenas para cristãos, é um livro para todos, quer você seja católico, quer você seja umbandista, quer você seja evangélico ou até mesmo descrente da existência de Deus. Não, eu não estou ficando louco, porque no final das contas o livro trabalha a misericórdia e independente de sua crença ela é uma só.
Andrea Tornielli nesse livro faz perguntas ao papa Francisco, relacionando-as com a misericórdia. Está ai algo simples, mas o interessante do livro são as respostas claras, objetivas e acolhedoras do pontífice. Francisco não só escolhe muito bem suas palavras, analogias e ensinamentos, ele foca em uma abrangência argumentativa que acolhe a todos.
?A igreja não está no mundo para condenar, mas para promover o encontro com aquela amor visceral que é a misericórdia de Deus. Para que isso aconteça, é necessário sair. Sair das Igrejas e das paróquias, sair e ir a procura das pessoas onde elas se encontram, onde sofrem, onde esperam?.
? Papa Francisco.
O Papa faz uma análise também da questão do confessionário da igreja católica. Segundo ele, é necessário ter consciência de que esse momento não é um julgamento, não é um momento na qual o padre é o juiz que tem a necessidade de julgar os que ali vão se confessar. É função do padre ouvir e tornar o confessador consciente do seu erro, mas não de maneira a julga-lo e sim orientá-lo. É necessário tomar cuidado para não tornar o confessionário em um interrogatório.
Nos últimos tempos está em voga toda a questão de alcance de direitos LGBT e suas conquistas matrimoniais e direitos a viver em sociedade sem grandes problemas. Durante muito tempo a antipatia religiosa com os homossexuais tem causado ojeriza à comunidade LGBT, tornando muitas vezes os cristãos vilões por suas declarações homofóbicas com base em escrituras bíblicas. Em 2013 o Papa Francisco deu uma declaração acolhedora e inesperada sobre o assunto, no livro Andrea volta a questionar o Papa sobre tal e sua resposta se mantém firme. O Papa explica o que disse anteriormente ?se uma pessoa é gay, busque o Senhor e tenha boa vontade, quem sou eu para julgá-la?? e enfatiza o fato de que antes de uma pessoa ser homossexual, ela é uma pessoa. ?Antes existe a pessoa, na sua totalidade e dignidade, não é definida somente pela sua tendência homossexual? o papa ainda afirma preferir os homossexuais próximo a ele, se confessando ao senhor e orando junto a ele. Essas declarações vindas do papa reforçam a tolerância, o amor e a misericórdia para com todos e transmite segurança para aqueles que desejam ingressar nas igrejas.
O livro discorre entre o amor, misericórdia, aceitação do pecador ? não do pecado ? e ministração de ensinamentos para os próprios membros da igreja católica. O interessante é notar a humildade do pontífice que durante um momento do livro afirma também ter necessidade de misericórdia e aconselha a todos os padres e membros da igreja se atentarem aos reais propósitos de Deus. A linguagem do papa nos alcança por ser simples, porém intimista, suas respostas não deixam perguntas em haver e não deixa espaço para duas interpretações. Elas são declarações diretas, objetivas e isso torna a leitura extremamente interessante. Ao mesmo tempo Andrea parece estar em sintonia com o leitor, suas perguntas ao Papa refletem nossas vontades, são perguntas na qual a maioria gostaria de fazer e poderá ter as respostas do Papa.
A experiência de leitura desse livro é fantástica. Eu sou ateu, confesso para vocês que mesmo não possuindo nenhuma crença religiosa simpatizo demais com os ensinamentos e com a forma de pensar do papa Francisco. Ele é acolhedor, ele trás a igreja para perto de nós e não nos afasta dela. Ele além de abraçar os seus, faz com que pessoas que não estão em convivência com a religião o admire e deseje que todos os demais lideres religiosos sejam como ele, em prol de um mundo melhor, em prol de um Deus e de uma doutrina inclusiva e não julgadora. Com esse livro eu tive ainda mais certeza de que esse papa tem trazido um sopro de ar fresco, moderno, misericordioso e bondoso para a igreja católica e seus seguidores.
Esse Papa tem nos mostrado o real papel da igreja e da religião no mundo: O acolhimento! O direcionamento, o dar as mãos ao pecador, lhe trazer a consciência do pecado e lhe mostrar o caminho para se livrar dele e não a excomungação e exclusão forçada daqueles que realmente precisam das graças do senhor. Afinal Jesus havia dito para Pedro que deixaria de pescar peixes e seria, a partir daquele momento, pescador de homens e a misericórdia é, na minha humilde opinião, a mais fortes das redes de pesca de almas.
Eu indicaria esse livro para qualquer um. Fiquei realmente impressionado com as reflexões que ele me proporcionou e com a forma de transparecer conhecimento, humildade e misericórdia do papa pode trazer aos católicos um grandioso novo momento no cenário mundial. A edição que tenho em mãos foi publicada pela editora Planeta. O trabalho gráfico está simplesmente fantástico. A tradução da Catarina Mourão é extremamente competente e as fontes utilizadas no livro são bem agradáveis, principalmente para mim que ando meio cego.