Fernando 31/08/2020Uma preciosa (e assustadora) antologiaCONTOS DE TERROR - TOMO II foi lançado pela Martin Claret em 2015, com tradução de Brabara Guimarães, e reúne seis contos escritos originalmente em língua inglesa, contando com alguns nomes bem conhecidos do meio literário do gênero no Século XIX.
A COISA MALDITA - Ambrose Bierce (1894)
É o conto de abertura. Nele acompanhamos uma investigação, onde no centro de uma sala há um cadáver lacerado, um investigador, sete magistrados e uma testemunha. Dentre os textos selecionados, esse foi o que eu menos gostei. Cumpre o que promete sendo um conto curto e muito misterioso, mostrando que nem tudo está ao alcance dos olhos.
A HISTÓRIA DA VELHA BABÁ - Elizabeth Gaskell (1852)
Esse conto simplesmente destruiu a minha vida. Aqui acompanhamos a babá Hester que, desde muito jovem, cuida da Srta. Rosamond. Quando a mãe da criança morre e elas se veem indo morar numa casa distante de um primo da família, adentram a suntuosa mansão e os segredos da velha e ressequida Sra. Furnivall, e tudo começa a ficar estranho quando a babá ouve, certa noite, o órgão do vestíbulo tocando sozinho e os outros empregados da casa se recusam a falar sobre. Pra mim, esse foi o ponto alto da coletânea. Gaskell nos brinda com um conto incrível, narrado pelo ponto de vista de Hester, o que nos emerge na história sem nem mesmo percebermos. A ambientação é linda e lúgubre ao mesmo tempo, deixando tudo mais fantástico. O conto é um prato cheio para os amantes da Era Vitoriana e dos romances góticos.
A MÃO PARDA - Arthur Conan Doyle (1899)
Nesse conto do criador de Sherlock Holmes, acompanhamos um médio indiano que, após se aposentar, se vê numa situação paranormal e aparentemente insolúvel, então decide conversar com alguns sobrinhos distantes, até que um deles apresenta uma solução ao tio desesperado. Um conto legal e envolvente, a ambientação é muito bem trabalhada e o enredo intrigante. Mesmo com tudo isso, o final fugiu por uma via um tanto óbvia que não me agradou muito. Mesmo assim, vale pela experiência de leitura, afinal, nunca sabemos quando podemos ser confrontados por algo vindo do além-túmulo...
O CONVIDADO DE DRÁCULA - Bram Stoker (1897)
Eu sou suspeito pra falar desse que é um dos meus preferidos, junto com "Drácula". Aqui acompanhamos um inglês que decide seguir por um caminho que todos do povoado consideram amaldiçoado, numa noite em que, especialmente, ele não deveria ter feito isso. Vemos aqui o vilarejo ao sopé das montanhas onde está o castelo de Drácula como pano de fundo, assim como as adjacências do caminho até a morada do vampiro que não foram exploradas por completo no romance de Stoker. Por ser uma releitura, foi muito interessante ver como o conto funciona muito bem tanto atrelado à obra "Drácula" quanto desassociado dela. Indispensável.
O MANUSCRITO DE UM LOUCO - Charles Dickens (1836)
O título já entrega o conteúdo de uma vez: um conto curtinho no qual fazemos contato com o manuscrito de um homem louco. É uma história muito interessante e bem estruturada que eu pretendo revisitar no futuro, já que, apesar de ter gostado, não consegui me conectar muito. A proposta é interessante, assim como a execução, e somo levados numa narrativa vertiginosa que confunde os sentidos, plantando a semente da dúvida na cabeça de quem lê.
O QUARTO DAS TAPEÇARIAS - Walter Scott (1828)
Um general decide visitar um amigo de infância quando descobre que esse herdou um castelo na cidade pela qual estava de passagem. Quando vai para o quarto designado para sua estadia, não imagina que está adentrando um local famoso na casa pelas suas visões e barulhos paranormais. É um conto bom, porém morno e sem grandes revelações ou pânicos. Uma escolha interessante pra fechar a coletânea.
Essa publicação foi um acerto total da editora. A antologia funciona muito bem, a seleção de contos foi bem feita, e tudo isso é entregue pra gente numa edição com projeto gráfico simples e bonito, com uma ilustração ao começo de cada conto, preço acessível, e, o mais importante, com uma tradução de qualidade.