Tainá 16/08/2019
E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?
José Saramago é conhecido, reconhecido e admirado no mundo inteiro, tanto pelas suas histórias quanto pela escrita – um tanto subversiva – como elas são contadas. É de se admirar que inicie “A maior flor do mundo” lamentando não saber escrever histórias para crianças, pois elas pedem palavras descomplicadas e uma maneira certa de contar. E paciência. Mas ele tem uma linda história que inventou a ser contada, então ele conta como seria essa história se soubesse escrevê-la. E, assim, conta a história de um menino da aldeia que, no mundo possibilitado pela infinitude da infância, sai pelos fundos do quintal, passa de árvore em árvore, desce rio abaixo, ultrapassa os limites das terras onde se aventurava sozinho. Dali, segue adiante para o planeta Marte, corta à direita pelos campos até chegar à colina redonda como uma tigela voltada e encontrar a flor tão murcha. Então ele desce a montanha, chega ao rio Nilo, recolhe suas águas com o côncavo da mão e dá gotas à flor. Vinte vezes cá e lá. O menino adormece debaixo da flor, as horas passam, os pais preocupam-se e todos vão à sua procura. Até que, quase no pôr do sol, veem ao longe a flor enorme nunca antes notada. E o menino foi levado para casa, rodeado de todo o respeito, como obra de um milagre, por todas aquelas pessoas que nunca antes haviam visto a flor. “E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?”. Talvez a flor não tivesse ficado tão murcha.