Resenhas - Um Lugar Ao Sol

Clio0 02/10/2023

O lirismo de Veríssimo finalmente dá lugar a sua escrita mais realista, caucada na miséria e na praticidade que transformam o cotidiano simples em algo mais duro, mais queimado de sol.

Essa obra não deve ser encarada como algo pessimista, apesar de retomar os personagens Vasco, Clarissa e Dona Clemência de obras posteriores - Clarissa e Música ao Longe nunca foram referidos como uma trilogia pelo autor - é nítida a ideia do autor de sobrepôr as fantasias da juventude com a dureza da fase adulta.

Não é uma vingança e não há nada de voyeuristíco nessa obra. Mesmo os momentos de maior tensão entre Amaro, Fernanda e Clarissa, os quais não são propriamente parte de um triângulo amoroso, ainda deixam entrever que são acasos narrados pelo autor como alguém que observa o mundo a sua volta, sem propriamente lubricidade ou rancor. É o olhar levemente curioso de quem fuma um cigarro na janela.

Recomendo.

Renato 09/11/2022

Um inverno que não quer ir embora
Um crime político numa cidadezinha escancara a força bruta do coronelismo e a impotência de suas vítimas, e empurra uma família para a pobreza, obrigando-os a abandonar a terra onde viveram por gerações em busca de melhor sorte na cidade grande. Nesse pano de fundo os personagens dessa história entrelaçam suas tristes vidas que parece se afastar cada vez mais de uma redenção. Causa desconforto assistir a busca infrutífera por melhores dias, seja dos protagonistas, Vasco, Clarissa e Fernanda, seja daqueles que orbitam no seu entorno. O sucesso parece improvável o que torna patético o mergulho do personagem por ambientes de luxo e abundância mundana enquanto lamenta viver sob a dependência do trabalho das mulheres da casa, as únicas que sabem conduzir o destino. Surgem personagens e histórias paralelas com retornos ao passado, nem sempre nobre, que parecem querer explicar o inexorável declínio que experimentam. Nesse limiar da miséria cada um alimenta seu sonho e dói ver o medíocre fim reservado a um ou outro. Erico Veríssimo não se apieda da condição humana, ele a narra, mas, para a sorte do leitor, também não é cruel e permite algumas saídas.

Júlio 09/03/2010

Verissimo é um dos poucos que conseguem exprimir sentimentos tão bem. Parece fácil, mas não é. Quando terminei de ler 'Um lugar ao sol', decidi que seria ou pelo menos tentaria ser escritor. O livro não é uma lição de vida, mas, sim, uma inspiração pra vida.

Um dos melhores,senão o melhor,livros da minha vida.

Anienne 23/09/2020

Um Lugar ao Sol
Dizem que Veríssimo teve três fases literárias e a primeira delas é a fase dos romances urbanos, justamente, os livros que estamos lendo no Grupo de Leitura Coletiva #Veríssimos.

Este é o quarto livro e, como era de se esperar, eu amei!!!

Ele retrata, de forma crítica, a vida da sociedade e da pequena burguesia, com pitadas ácidas sobre as crenças e preconceitos arraigados. Acho impressionante ele trazer à superfície assuntos sociais que são tabu até hoje e que ele já tratava e retratava em seus livros na década de trinta.

As coisas acontecem em Jacarecanga, cidadezinha ficcional do interior, na região sul do Brasil e também em Porto Alegre. Ele mostra o dia a dia dos primos Clarissa e Vasco e, dessa forma, fala de vida real e personagens humanos que nos fazem refletir muito, ainda mais quando a leitura é feita em grupo.

Sua escrita é lírica, sinestésica, cheia de beleza e poesia, independentemente, das tragédias que retrata.

Eu sou suspeita para falar da obra de Érico Veríssimo porque sou apaixonada demais!

Fabi 07/03/2022

Como Érico Veríssimo sabe descrever sentimentos! Encantada! E ao mesmo tempo, sabe fazer escrita com personagens reais, muita simplicidade, mas muita esperança mesmo em tempos difíceis. No mesmo ambiente de miséria, de pobreza, encontra-se muito amor, muita esperança, muita solidariedade. E fica uma lição: que busquemos o nosso LUGAR AO SOL!

Marlo R. R. López 21/11/2009

Um dos meus livros preferidos de Erico Verissimo. Esta obra simplesmente possui um teor humano que eu ainda não consegui achar em outro lugar. "Poético", "reflexivo" e "encantador" são algumas de suas qualidades mais notáveis.

Craotchky 21/01/2017

Verissimo, melancolia e metamorfose
"Teve então um desejo enorme de dormir, dormir muito, para acordar num mundo melhor ou então não despertar jamais."

Depois de ler Clarissa e Música Ao Longe e resenhar ambos, quis manter essa rotina e resenhar o terceiro livro do autor que leio. Neste tomo reencontrei Clarissa mais uma vez, pela terceira vez. Clarissa me fascina de um jeito que não sei explicar, talvez se soubesse o fascínio deixaria de ser.

Bem, nesta obra Erico Verissimo destrincha a humanidade de cada personagem, e eles são muitos. Ele vai fundo em cada um a tal ponto que, em certo momento da narrativa, me fez lembrar de Milan Kundera, outro autor que tão bem descreve o lado humano das personagens e da vida e suas relações, explorando algumas questões existenciais universais, tendo isso como talvez sua principal virtude.

Dentro deste contexto, desta vez Erico não traz aquela visão romântica e texto lírico que vi sobretudo em Clarissa e um pouco menos em Música Ao Longe. Aqui ele adota uma visão mais real da vida, mais visceral. Já não temos aquela narração poética e cheia de beleza. Enquanto em Clarissa a história é composta de cenas mais alegres, de certa maneira mais puras, e Música ao longe surge como um meio termo, neste Verissimo apresenta personagens assolados com os problemas da vida. A atmosfera da história é preenchida por melancolia.

Achei um pouco de mim em cada personagem, em cada personalidade. Afinal, as pessoas têm sentimentos, sensações, emoções em comum, seja qual for a época na qual vivem. Angústia, melancolia, medo, vaidade, inveja, egoísmo, orgulho, raiva, todas essas e muitas outras permeiam a vida de cada um. Temos esperanças, ambições, sonhos, que muitas vezes vão esbarrar nas desilusões que a vida nos imporá sem piedade.

Cada vez mais percebo que é justamente esse lado humano que consegue me prender. Quanto mais o tempo passa mais me agradam os livros que exploram essa humanidade. Mais gosto de ver o quotidiano, as vicissitudes da vida e a reação das personagens perante elas. Com relação aos filmes está acontecendo algo parecido, embora de forma menos intensa. E assim, cada vez mais me afasto de histórias fantásticas, fantasiosas, com outros mundos e criaturas inexistentes. Venho perdendo interesse por histórias como as que Tolkien escreve.

"De que vale um romance com arte mas sem humanidade?"

Um lugar ao sol me trouxe outro Erico Verissimo, nem melhor, nem pior, mas certamente mais completo aos meus olhos. Fico pensando o quanto um escritor deste tipo precisa necessariamente ser um constante e eficaz observador de todas as coisas.

Taryne 26/04/2011

Bravo!
Se "Clarissa" e "Música ao Longe" expressam um pouco da poesia presente em Erico Verissimo, "Um Lugar ao Sol" é cru, pungente e até chocante num primeiro momento. Para quem está acostumado às primaveras na narrativa de Erico, este livro pode assustar no princípio. É todo cheio de realidade, todo cheio de dor, repleto de vida e de morte.Cheguei a ficar incomodada com a claustrofobia de não encontrar com facilidade o 'lugar ao sol' proposto no título desta obra. Mas em determinado momento, percebi meu egoísmo em buscar só o frescor de Erico... este escritor é muito mais que palavras bonitas que nos aquecem o coração. Erico é capaz de expressar e descrever sentimentos humanos como ninguém e não tem medo de experimentar, de descrever as belezas e mazelas da vida com a mesmíssima verdade. Como diz a personagem Fernanda: "Quando se procura um livro não é para fugir à vida, mas sim para viver ainda mais; viver a vida de outras personagens, em outras terras, outros tempos. Ainda é o desejo de viver que nos leva para os romances". E Erico, como ninguém, nos sacia esse desejo de viver ainda mais através dos livros e de seus personagens inesquecíveis.

delicadas.leituras 17/12/2020

Vidas Comuns
Gosto muito deste autor, li alguns de seus livros, mas Clarissa, Um Lugar ao Sol e Olhai os Lírios do Campo foram os que me impressionaram, mas até os que não gostei sei que são bons. As histórias da vida comum, do cotidiano, de mazelas (não todas), me tocam, e Veríssimo trás muito disso nesta obra. Fico procurando autores que reaproveitam seus personagens, acho que me apego, então gostei de ver Clarissa de novo, mas não deveria já que sua vida de adulta não tem aquela beleza passada no livro que leva seu nome. Gosto também de histórias ambientadas em pequenas cidades, tendemos a pensar nelas com uma visão romantizada, mas muitas coisas ruins também acontecem, e neste caso, a família parte para Porto Alegre justamente por causa da violência, e é claro que lá passará por problemas, mas daqueles comuns à maioria dos habitantes de grandes cidades, especialmente aos da camada mais pobre.

Adlya.Gazio 11/11/2023

Um lugar ao sol - Érico Veríssimo
O Érico como sempre me arrebata com sua sensibilidade exagerada.
E eu, sempre choro.
..............

Danilo 13/09/2011

Um Lugar ao Sol
Esse livro, o segundo do projeto Resenhas à 2, me cativou. Assim como “Olhai os Lírios do Campo” essa obra trouxe uma maneira mais envolvente de evolução da história em si. Quando li “Música ao Longe” fiquei de certa maneira decepcionado, porque esperava mais daquele livro. Porém “Um Lugar ao Sol” veio para sanar minhas esperanças a respeito da literatura de Érico Veríssimo.

O livro tem como enredo a continuação da história de “Música ao Longe”, que narra momentos importantes da vida de Clarissa. No desenrolar desse livro podemos ver como sua família lida com as perdas importantes, inclusive de João de Deus, o pai da família. Com sua morte, Clarissa, Vasco e dona Clemência, personagens importantes do livro, precisam encontrar um meio de ganhar a vida, fora do casarão histórico, outrora dominado por eles. Como a família se enrola em dívidas, a casa é hipotecada e posteriormente entre aos italianos da família Gamba, citada nos outros dois livros anteriores.

Fora de casa, o trio resolve partir pro sul, onde possuem parentes que podem auxiliá-los. Nessa viagem ocorre uma coisa interessante no livro: a inserção de novos personagens. De um jeito inteligente, Érico coloca novas peças e centraliza a história em torno delas. Entre as mais importantes destaco Fernanda e Amaro. A primeira é uma pessoa deveras atenciosa com todos que pode, uma verdadeira mãe. E no caminhar das coisas ela conhece a família de Clarissa e dá todo tipo de auxílio. Já o segundo é um homem maduro, mas com uma queda por Clarissa. O problema é que ele se culpa muito por esse amor retraído, e busca saciá-lo espiando a garota secretamente.

Junto com esses dois personagens vemos o desenvolvimento de uma serie de conflitos. Fernanda é casada, vive uma vida humilde, mesmo seu marido sendo filho de pessoas importantes na sociedade daquela época. Existe uma pressão em sua família para que eles peçam ajuda dos pais de seu esposo, mas ela reluta em não aceitar, pois sabe que seria humilhante e de certa maneira covarde depender deles. Ela quer que sua família ande com as próprias pernas. E no caso de Amaro, ele passa por problemas financeiros, precisa se mudar pra longe de Clarissa, acaba se envolvendo com uma mulher que não ‘faz o tipo’ dele, e a história fica muito dramática, porém renovada.

Além desses fatores interessantes, surge uma garota na vida de Vasco, Anneliese. Ela vem da Europa e se entrega de paixões por ele. Porém ele só a conhecesse por ter feito amizade com um velho conde, que mora na mesma pensão que ele, casa de uma parenta de dona Clemência. Sei que parece confuso, por isso recomendo que você leia o livro com atenção, pois são mais de 400 páginas muito bem aproveitadas.

Outros pontos quentes do livro são o envolvimento de Xexé, velho amigo de Vasco e Clarissa, na vingança pela morte de João de Deus, os problemas pessoais de Xexé, o reaparecimento do pai de Vasco (que desde o primeiro livro era um viajante desaparecido) e o desenrolar de todos os fatos citados acima de maneira uníssona.

Esse é um daqueles livros densos, mas não cansativo. Apesar de ser longo, é uma história bem desenhada, com muitos perfis psicológicos colocados diante do leitor, muitos problemas e soluções emocionais, conflitos entre pais e filhos, e, juntando tudo numa só frase, um livro feito para se deliciar, com toda certeza!

Lipe 04/12/2019

Erico em Ordem Cronológica - 4° livro
Este é um projeto pessoal que jamais me arrependerei de ter embarcado. Erico Verissimo possui uma escrita sincera, pueril, poética e filosófica. Ele sabe como tocar o leitor que vê-se dentro das suas narrtivas que se assemelham a crônicas de costumes. Doe no leitor ler sobre a miséria, vida e morte, sobretudo as cenas de suicídio que aparecem nessa e em outras obras do Erico.
Em Um Lugar ao Sol, reencontramos personagens de obras anteriores do Verissimo, como Clarissa e Vasco.
Continuamos a acompanhar a desgraça da tradicional família Albuquerque, guerreiros e latifundiários gaúchos. Logo no início do primeiro capítulo, o leitor é jogado no velório do patriarca João de Deus Albuquerque assassinato por motivações políticas partidárias. A partir desse ponto, vamos acompanhando a luta pela sobrevivência da viúva Clemência, da órfão Clarissa e de seu primo Vasco, que passarão por graves problemas financeiros e emocionais e optando por saírem de Jacarecanga e viverem em Porto Alegre, fugindo da violência e morte e levando consigo apenas dores e incertezas.

Não é um dos melhores livros do Erico Verissimo, pois em determinados momentos a história arrasta-se e parece não progredir, os protagonistas tomam decisões incoerentes com suas personalidades, mas vale muito a pena ser conhecido pelos leitores do autor.

DANIZINHA 19/12/2017

Um lugar ao sol
Pode-se dizer que Um lugar ao sol (Editora Globo; 412 páginas), quarto romance de Érico Veríssimo, é um híbrido das três obras anteriores: Clarissa, Caminhos Cruzados e Música ao longe. O autor promove um encontro de personagens: Clarissa e Vasco tornam-se amigos e compadres de Fernanda e Noel.

Neste enredo, a família Albuquerque vive o drama de ser vítima da violência: o pai de Clarissa, João de Deus, é assassinado por Zé Cabeludo, capanga do Prefeito de Jacarecanga, no interior do Rio Grande do Sul. Trata-se de um crime motivado por questões políticas antagônicas.

O primo Vasco vê-se, então, obrigado a chefiar o que restou de sua família: Clarissa e a mãe dela, Dona Clemência. Os três se mudam para Porto Alegre e, de início, hospedam-se na pensão da tia Zina e do tio Couto, onde Clarissa havia morado anteriormente, enquanto cursava o Normal Superior.

Alguns meses depois, a família aluga um apartamento no Edifício Colombo, onde o casal Fernanda e Noel mora, junto com Dona Eudóxia e Pedrinho. Neste ambiente familiar, Fernanda é o porto-seguro de todos. Sem ela, não há dinheiro para o sustento da mãe, do irmão e do marido.

No entanto, os momentos mais marcantes nesta trama são: o reencontro de Vasco com o pai Álvaro Bruno, que havia abandonado a família para se aventurar pelo mundo - e, por causa disso, a mãe Zuzu cometera suicídio -, e o nascimento dos ‘filhos’ de Noel: a Anabela e o seu primeiro romance.

Intitulado Um lugar ao sol, a história baseia-se na vida de João Benévolo, um homem desempregado e sem ânimo para mudar de vida, cuja família é sustentada pelo antigo namorado da esposa. Já a obra de Érico Veríssimo, de mesmo título, refere-se aos sonhos, às lutas e às frustrações de Vasco.

***

Minha opinião: “O que me cansou nesta leitura foi a crise existencial do personagem Vasco. Os pensamentos dele são narrados detalhada e extensamente, o que me impediu de ler em um curto período de tempo – digo, uma semana. No mais, o romance é doce como todo romance do autor. Curti a amizade de Clarissa e Fernanda e torci por Noel, que sofreu tanto para escrever aquele livro. Não fosse a ajuda da Fernanda... Percebi que tenho um Q desta personagem por tratar os meus com tanta dedicação e afeto”.

site: http://leituradomomento.blogspot.com.br/2011/03/um-lugar-ao-sol.html

Raissa Barros 10/06/2021

Senti um vazio quando terminei
Como sempre o autor me surpreendeu pela simplicidade das suas histórias e escrita. Eu fico impressionada como o autor consegue demostrar tão bem os sentimentos dos personagens, por isso a cada capítulo me senti um pouco como eles.

O livro tem uma visão bem realista em relação a vida, ao dia-a-dia das pessoas que vivem uma vida pacata e mesmo assim, conseguem tirar uma lição positiva de tudo e ajudar aos que precisam, vizinhos e amigos.

Quando terminei o livro senti meio que um vazio, aprendi muito e levarei vários momentos do livro como lições pra vida.

Flavinha499 23/02/2024

A arte imitando a vida.
Um livro cheio daquilo que é cotidiano ,mas ao mesmo tempo mágico em sua simplicidade.
Conta a história de um grupo de pessoas que aprendem com o dia a dia como sobreviver e encontrar beleza em cada passo.