Gustakakkoii 25/09/2024
As duas rochas no rio
"A Cidade do Sol", de Khaled Hosseini, é, sem dúvida, uma das obras mais emocionantes e dolorosas que já tive a oportunidade de ler. O livro narra a trajetória de Mariam e Laila, duas mulheres afegãs cujas vidas são profundamente marcadas pela opressão, violência e injustiça. O que mais impressiona ao longo da leitura é a maneira como o autor constrói a relação entre essas duas personagens. No início, suas histórias parecem completamente distintas, mas à medida que a trama se desenvolve, seus destinos se entrelaçam de forma inevitável e trágica. Elas são vítimas não apenas de um regime opressor, mas também de um sistema patriarcal que as sufoca e silencia.
A crueldade que elas enfrentam, especialmente nas mãos de Rashid, é dolorosa de acompanhar. Rashid, que deveria ser um provedor e companheiro, se transforma em um símbolo do abuso e da dominação que caracteriza as relações entre homens e mulheres nesse contexto. Mariam, traída por seu próprio pai, vive uma vida de solidão e submissão desde cedo. Já Laila, uma jovem cheia de promessas e sonhos, vê sua vida desmoronar após a destruição causada pela guerra, forçando-a a se casar com Rashid. O relacionamento entre as duas, que inicialmente começa com desconfiança, evolui para uma parceria inquebrável, com as duas mulheres se apoiando em meio ao caos.
O que torna "A Cidade do Sol" tão especial é a forma como Khaled Hosseini captura a resiliência dessas mulheres. Elas são descritas como rochas, firmes diante de um rio de adversidades que as atinge continuamente. Mesmo diante de tanto sofrimento, elas encontram uma força interna que lhes permite continuar, mesmo quando tudo parece perdido. A amizade que floresce entre Mariam e Laila é uma luz em meio à escuridão, mostrando que, mesmo nas situações mais desumanas, ainda há espaço para laços de solidariedade e afeto.
Este é um livro que provoca um turbilhão de emoções. A tristeza e a raiva são companheiras constantes durante a leitura, pois é impossível não se indignar com as injustiças que essas mulheres sofrem. O leitor é forçado a testemunhar cenas de abuso e humilhação de uma magnitude que muitas vezes parece insuportável. Hosseini não poupa detalhes, e essa honestidade brutal faz com que a história seja ainda mais impactante.
Ao final, a sensação é de exaustão emocional, mas também de reverência pela força dessas personagens. "A Cidade do Sol" é uma obra que não apenas narra uma história, mas faz o leitor refletir profundamente sobre o papel das mulheres em sociedades opressoras e sobre a capacidade humana de resistir, mesmo quando tudo parece perdido. Mariam e Laila são personagens inesquecíveis, e sua jornada é uma lição de coragem e resiliência que ressoa muito além das páginas do livro.
Este é, sem dúvida, um livro que todos deveriam ler.