spoiler visualizarAndre.Pithon 07/11/2024
2.5
Aproximo-me de Trono de Vidro com respeito. Pode parecer absurdo: respeitar uma obra carregada de uma popularidade tão malquista? Sim, sou familiarizado com todos os estereótipos que marcam Sarah J. Maas, mas o primeiro ACOTAR foi uma obra cujo principal problema foi exatamente o oposto do que eu esperava: Faltou sexo de fada. Então vim para Trono de Vidro já preparado para ser mais puritaninho, sem altas expectativas. E o resultado, dessa vez, foi... Eh.
Este primeiro Lâmina da Assassina é episódico, histórias compiladas para contar-nos a vida da Celaena antes do suposto primeiro livro, mas uma especialista me recomendou como a entrada correta na série. Percebe-se muito claramente que muitos personagens tem um ponto de interrogação na cabeça de: Hihi, você já me conhece, olha como eu era diferente, hihi, se lembra? Tem afeto por mim? Hihi. Eu não tinha. As tramas são contidas e fechadas, cinco passagens da vida da protagonista, mas que se entrelaçam mais do que eu esperava, em uma narrativa com começo/meio e fim óbvio. Já é mais do que eu esperava de uma coletânea.
E o livro é competente. Acho que é uma ótima entrada à fantasia, vibes Eragon ou Harry Potter. Se você não espera os clichês chegando, eles são efetivos. O final é corajoso, e entendo que a proposta é jogar a protagonista no poço horrendo pro início da obra, mas é bem construído mesmo sem o contexto do que está por vir. Mas para mim, pobre leitor calejado, cai no problema de que já vi o conceito executado melhor em outros lugares. Celaena sai em aventuras de ladino todas planejadas e até com piratas! Locke Lamora faz o jogo de intriga/mistério/ladinagem com muito mais sagacidade. Celaena fica coitada de luto e promete vingança contra seu mestre e o império? Baru Cormorant machuca a alma muito mais profundamente, e ainda é gay o que melhora 10x a experiência. O tempo todo durante a leitura minha atenção foi dispersada para lembranças de livros melhores. Mas se eu não tivesse arcabouço de comparação, as coisas seriam diferentes.
Ou talvez não. A escrita de Sarah é estranhamente anacrônica. E as vezes isso gera muito entretenimento, já que a melhor assassina malvada violenta é uma garota menina toda perfumes, moda e cuidar do cabelo! O contraste é fofo. As vezes ela parece ter um senso de moral muito sensível para uma assassina treinada, uma mente quase contemporânea em valores, mas consegui passar o paninho. Mas as vezes me aparece uns "Apartamento", "Advogado", e não sinto que eu to lendo uma obra medieval. O cenário se distorce nesse anacronismo acidental (pois obviamente não está passando uma estética de sociedades sobrepostas como no caso do excepcional Mordew), e as vezes me parece faltar pesquisa, vocabulário, o medieval se reduz a cenário e roupinhas. Posso estar sendo injusto com Sarah, e a culpa é na verdade da tradução. Não sei, li em português para variar um pouco.
No fim das contas, é um livro. Não é péssimo, não é bom, tá num meio termo aceitável. E novamente, pensando-se que é o começo da série e todas as vozes costumam dizer que melhora no decorrer da obra, acho que pode valer a leitura se alguém quiser entender porque J. Maas é o maior nome da fantasia contemporânea. E é, podem fingir que seus Sandersons e Eriksons e Abercrombies são o mais relevante, mas quem vende livros é ela.