Vozes de Tchernóbil

Vozes de Tchernóbil Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - Vozes de Chernobyl


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Carolina Santana 15/02/2020

Escritora jornalista
E isso faz toda a diferença. Mesmo o livro sendo um pouco difícil e denso, já que não segue uma narrativa comum, é incrível a história que ele passa. Adorei entender melhor sobre essa tragédia e os impactos que ela provocou e ainda provoca. Vale a leitura!
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Lucas 24/02/2020

Realismo trágico: Nunca a realidade foi tão "ficção científica"
Se há um tópico histórico passado muito atual nos dias presentes é a tragédia nuclear de Chernobyl (ou "Tchernóbil", numa grafia que se aproxima mais da pronúncia em português). Ocorrido na madrugada de 26 de abril de 1986, o conhecimento básico do desastre traz a importância desse acontecimento nos dias atuais: o impacto da tragédia ainda será sentido por um incalculável número de gerações.

Chernobyl, situada ao norte da Ucrânia, perto da divisa com a Bielorrúsia, era uma aglomeração urbana menor, mas os reatores da usina nuclear que haviam na região ficavam dentro dos seus limites. Muitas vezes a cidade é confundida com Pripyat, esta sim maior, com quase 50 mil habitantes em 1985 e cujo centro ficava a cerca de 2 quilômetros da usina. Tanto Pripyat quanto Chernobyl hoje são cidades fantasmas, evacuadas após a catástrofe nuclear.

A tragédia foi resultante do colapso do sistema de resfriamento do reator número 4 da usina, que passava por um teste de funcionamento em condições críticas. Feito para geração de energia elétrica, um reator opera a partir de concentrações controladas de Urânio, um elemento químico altamente radioativo que, com o passar dos séculos perde prótons e se torna Chumbo, este um elemento mais conhecido. O manuseio e controle do Urânio nestas condições é feito basicamente com água resfriada, além de outros elementos. O entendimento pleno de todo o desastre de Chernobyl requer uma significativa dose de conhecimentos químicos e físicos, mas, essencialmente, o reator explodiu por um aumento repentino da vaporização, que, consequentemente, gerou um buraco no teto, com o núcleo do reator exposto, liberando incalculáveis quantidades de Césio, Iodo, Estrôncio, Urânio e outros elementos radioativos até que o incêndio fosse controlado, apenas duas semanas após a explosão.

Basicamente, a "ocidentalização" do tema se deve à maravilhosa adaptação seriada lançada pela HBO em 2019, protagonizada por Jared Harris e Stellan Skarsgard e dirigida por Craig Mazin. Os cinco episódios da produção são praticamente impecáveis em descrever estas questões técnicas e também dramatizam com perfeição todo o esforço que se seguiu para evacuação das regiões vizinhas à usina, além de uma infinidade de outros aspectos.

Deixando de lado a série num primeiro momento (ela ainda retornará na presente resenha), há também o livro Vozes de Tchernóbil – A história oral do desastre nuclear, obra-prima da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, publicada em 1997 mas só lançada no Brasil em 2016 pela Companhia das Letras, aproveitando os trinta anos da tragédia e também o fato de a autora ter vencido o Nobel de Literatura em 2015. A narrativa traz dezenas de relatos de pessoas comuns que foram afetadas pelo acontecimento: em sua maioria, moradores das zonas de evacuação, como professores, políticos, idosos, donas-de-casa, mas também soldados rasos, os chamados "liquidadores" (responsáveis pela "limpeza" da região), etc. São vários monólogos transcritos, muitos deles coletivos no sentido de vários personagens relatarem seus sentimentos num mesmo "capítulo".

A autora foi a primeira jornalista da história a vencer o Nobel. Não que ela se considere uma jornalista propriamente dita, mas é bem perceptível pela construção da obra a sua preocupação não em construir um pano de fundo ou um cenário que abrigue seus personagens, mas simplesmente ouvir e relatar os sentimentos dos diversos envolvidos com a tragédia. Diferentemente da série televisiva, que também pontua as questões mais comuns do desastre mas de uma forma secundária (seu foco está mais nas autoridades e em seus dilemas e conflitos), Svetlana lança luz ao impacto que a tragédia trouxe ao povo da região de Pripyat que, de uma hora para outra, se viu obrigado a abandonar suas casas.

Assim, sob a escrita desnudam-se dezenas de relatos tocantes, seja pela beleza com que foram transcritos pela escritora como também pela crueza que eles trazem. E por isso não podem ser aqui revelados em detalhes, mas, no geral, o leitor conseguirá imaginar as dificuldades das autoridades em evacuar a região, por exemplo. Um raio de 30 quilômetros da usina teve que ser esvaziado de uma hora para outra. Quase 140 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Mas como explicar à população que eles tinham que abandonar tudo o que possuíam por causa da exposição nuclear, invisível e impalpável? Como explicar o conceito de radionuclídeos aos idosos da região? Como justificar para essa camada mais popular a operação de guerra que foi montada para o combate à expansão da radioatividade? Como explicar a crianças que elas teriam que deixar seus bichos de estimação (contaminados) antes de partir?

Se de uma forma meramente pessoal, do ser humano como espécie, todo esse processo foi traumático, imagine-se sob o ponto de vista da natureza, que recebe um enfoque especial em praticamente todos os relatos. A crueza chocante de Svetlana não se situa em estimar a quantidade de radioatividade lançada na atmosfera. Ou na quantidade real de vítimas, instantâneas ou não. Os olhos de Svetlana se dirigem para as subjetividades, as pequenas coisas. Os danos em florestas, na relva, nas plantas, nos animais domésticos e selvagens adquirem um espaço relevante e que dão uma noção mais abrangente do desastre.

Sobra espaço, todavia, para os relatos humanos advindos daquilo que se convencionou chamar de "refugiados de Chernobyl". Ilustra-se um quadro de traumas psicológicos que serão transmitidos para várias gerações. Não apenas nesse sentido mais implícito, mas também os efeitos colaterais de saúde que os antigos moradores adquiriram e que, inevitavelmente, vão ser repassados aos seus descendentes, também servem de pano de fundo para vários relatos emocionantes. Com esse enfoque e de uma forma direta perceptível nos relatos, Svetlana dá voz a esta população não apenas para que eles exponham todas as dificuldades práticas que passaram, mas também para falarem sobre uma certa "fobia" que o povo de Chernobyl ou Pripyat sofreu perante a pessoas de outros lugares.

Um outro enfoque muito interessante e que a história e até a mídia em geral ignoram quando tratam do acidente nuclear é a Bielorrússia, país natal da autora e vizinho à Ucrânia (ambos na época pertencentes à URSS). A série televisiva mostra a preocupação das autoridades (justa, de fato), com a intoxicação do Rio Dnieper, que abastece Kiev, a capital da Ucrânia, situada a menos de 150 quilômetros ao sul. Todavia, não só a série como todo o arcabouço histórico que cerca o acidente esquecem dos sofrimentos do povo bielorrusso que, em função de correntes de vento, acabou recebendo a maior parte da radiação que foi lançada na atmosfera. Atualmente, estima-se que 20% dos quase 10 milhões de habitantes do país vive em áreas contaminadas por elementos radioativos, dado importante e até quase desconsiderado no Ocidente.

Se o cerne da narrativa de Svetlana não é descrever a tragédia nas relações entre as autoridades estatais da União Soviética, ela consegue com maestria transcrever as percepções que os entes populares tinham a respeito do alto comando. Uma crença cega ao Estado, com suas informações distorcidas que tachavam de pessimismo tudo o que as questionava, foi se desconstruindo. Na verdade, inicialmente houve uma "tranquilidade" dos governantes, mas eles, depois de certa relutância, viram que se tratava de um caso gravíssimo e, mediante esforços de guerra, conseguiram evitar uma catástrofe ainda maior, que, contudo, poderia ser mais "branda" se não tivesse havido esta fé inicial no heroísmo da "Pátria Soviética". Os relatos que mencionam estes momentos de quebra de paradigma, de que o Estado estava errado, comprovam o raciocínio do então dirigente da URSS, Mikhail Gorbatchev (1931-), que em sua biografia descreveu em termos políticos a tragédia de Chernobyl como o episódio que marcou início do fim do bloco (o que acorreu mais de cinco anos depois, em dezembro de 1991). A hesitação em admitir a periculosidade do quadro, contudo, custou muitas vidas, seja de soldados ou voluntários ou de pessoas que adquiriram doenças cancerígenas no curto prazo.

Este lado mais político é melhor exposto na série televisiva. Aliás, não há nenhuma fundamentação de que a adaptação da HBO baseou-se no livro, mas fica bem perceptível que alguns artifícios foram empregados. O principal deles, e que é o primeiro relato de Vozes de Tchernóbil é, inclusive o escopo narrativo mais voltado ao "popular" na série, que é a história de Liudmila Ignatenko, esposa de Vassili Ignatenko, um dos bombeiros que foram controlar o incêndio minutos após o acidente (sábia decisão da autora em colocar o relato dela como o primeiro: é o que mais sintetiza todo o tom narrativo da obra). Tanto a série quanto o livro se complementam: não há espaço aqui para aquela já milenar questão de "o livro é melhor que o filme/adaptação". A série é crua, há momentos em que parece um filme de ficção científica, em outros um filme de terror ou de suspense ou ainda em outros uma série de política. Fato é que Chernobyl da HBO é uma das melhores coisas já produzidas nos últimos anos e, da mesma forma que a obra-prima de Svetlana Aleksiévitch merece ser lida, a série merece ser assistida.

Se aqui na América Latina tem-se o realismo mágico, que tanto encanta o leitor, pode-se concluir que Svetlana Aleksiévitch promoveu um realismo "trágico", marcado por pinceladas de ficção científica que foram dramaticamente reais. Sua técnica de pontuar a narrativa (em determinados trechos, ela coloca entre parênteses algum aspecto do entrevistado naquele momento do relato, como se ele está chorando ou pensando, algo sutil, mas genial) traz ainda mais choque a uma narrativa que, desde a sua concepção, estava fadada a se preocupar com o povo afetado pelo desastre. É difícil escolher um relato melhor que outro (uma mãe relatando os problemas físicos da filha decorrentes da radiação, um operador de câmera que tirava imagens dos animais e um historiador cético quanto ao comunismo são alguns dos melhores), mas todos eles em conjunto fornecem um olhar tocante, que muito emociona e ensina e que valem, e muito, a leitura.
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Rhay 28/02/2020

Uma obra que aborda um tema bastante interessante
Comecei a ler por recomendação de um amigo. Confesso que de início achei que seria uma leitura entediante, talvez pelo fato de que esse não seja o meu gênero favorito. Acontece que gostei bastante do livro, não só pelo tema do desastre de Chernobyl, mas pela forma que foi narrado os relatos das pessoas que vivenciaram o desastre de perto.
O único ponto fraco foi que demorei tempo demais para lê-lo.
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Paloma 04/03/2020

O ponto de vista
Um ponto de vista foi retratado sobre a grande tragédia de Tchernobil: o de quem estava do lado de fora. Neste livro, vemos quem vivia lá e nos arredores. Quem foi no reator. Quem.nasceu naquela época.
É um soco no estômago.
Eu, particularmente, pulei a parte sobre a morte dos animais.
Mas dava vontade de pular tudo. Porque é uma dor física ler este livro. Sentimos fundo o que essas pessoas passaram. Foi horrível, foi doloroso e nunca vamos nos recuperar de tamanha tragédia!
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laralimaoliveira_ 04/02/2021

Excelente
O livro é super interessante, aborda sobre o desastre nuclear de Chernobyl e é composto por relatos de pessoas que viviam na região. As histórias mostram a realidade e a perspectiva dos moradores frente ao contexto. É uma leitura que pode ser um pouco cansativa, mas que vale muito a pena.
É pesada, triste, mas necessária!
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Valéria @meucapitulofavorito 24/05/2020

Relatos comoventes de sobreviventes do maior desastre nuclear do século XX
"Tchernóbil é a pior de todas as guerras. O homem não tem salvação em parte alguma. Nem na terra, nem na água, nem no céu."
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Em 26 de abril de 1986, ocorreu em Chernobyl, o maior desastre nuclear que destruiu um reator da Central Elétrica Atômica (CEA), que espalhou material radioativo, contaminando todo o ar da cidade - hoje considerada "cidade fantasma" -, se tornando o mais grave desastre tecnológico do século XX. Um crime que matou milhares de pessoas e até hoje ainda afeta muitas vidas.
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O livro é um compilado de depoimentos reais das vítimas do acidente nuclear. Mesmo após 34 anos do acidente, a população ainda sofre com os graves níveis de radiação presentes no local.
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"O homem é o maior inimigo da natureza. A contaminação do ar, o envenenamento do solo, os buracos na camada de ozônio, o clima da Terra está mudando. E nós nos horrorizamos. Do acidente de Tchernóbil, quem é culpado: o reator ou o homem? Sem dúvida, o homem."
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A escrita é nua e crua, com relatos dolorosos de um povo que até hoje paga pela ganância do ser humano. Em alguns momentos me deparei com uma narrativa lenta e repetitiva, mas o livro é um ótimo trabalho jornalístico. É mais um daqueles livros que causam impacto e nos faz ver o mundo com outros olhos e com mais empatia.
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Um mal que passou por gerações e ainda afetará muitas outras...
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"O homem se surpreendeu, não estava preparado para isso. Não estava preparado como espécie biológica, pois todo o seu instrumental natural, os sentidos constituídos para ver, ouvir e tocar, não funcionava... Os sentidos já não serviam para nada; os olhos, ouvidos e os dedos já não serviam, porque a radiação não se vê, não tem odor, nem som. É incorpórea."
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Analice 24/07/2020

Um livro ímpar
Uma ?história indizível? sobre tragédias pessoais e coletivas. O livro mais representativo que li sobre o caráter do homem vermelho. Sua idolatria pela pátria, a entrega abnegada ao coletivo em detrimento da insignificante vida individual. Relata através de depoimentos este episódio vergonhoso pra humanidade que foi (é, e ainda será) Tchernóbil.
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Aurea Sergia 05/07/2020

Não é um livro sobre Tchernóbil, é um livro sobre pessoas e sentimentos. Conhecemos histórias desde um físico nuclear a um simples camponês que tinha sua terra como a maior preciosidade da vida.
A princípio eu achei que a proposta do livro em ser um compilado de relatos pudesse ser repetitivo ou raso, mas me deparei com uma obra de extrema sensibilidade.
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Eduardo 25/07/2020

'se desaprendermos a sofrer, quem nos achará interessantes?'
Minha história com esse livro começou em outubro de 2019, em um ônibus voltando para a casa de meus pais. Ônibus executivos são extremamente frios, e depois de ler algumas vozes, eu fechei o livro completamente enjoado e não toquei nele pelo resto da viagem. Eu não gosto de ficar tanto tempo com uma leitura pendente, mas eu não tive estômago para devorar esse livro. Tantas histórias sob o peso da negligência, do luto, da incompreensão e da insignificância. Tantas vozes atormentadas presentes numa tragédia. Muitas vezes, durante a leitura, acabava eu mesmo tendo de encarar a minha própria pequenez. Termino o livro como quem desliga o gravador, troca uma despedida afetuosa e sai pela porta, para nunca ser mais aquela pessoa que entrou. Para nunca mais esquecer as vozes de Tchernóbil.
michelle, paul mccartney 28/07/2020minha estante
muito bonita sua resenha, digna do livro


Eduardo 05/10/2020minha estante
Obrigado!! Levei um tempo para conseguir refletir bem o que queria dizer sobre essa experiência




Eduardo.Staque 06/05/2021

Primeiro livro de não ficção que leio por vontade própria, e gostei da experiência.

Foi bom ver de forma mais intimista uma tragédia das maiores que já tivemos na história.
Entender e ver o ponto de vista de quem estava dentro da zona, que teve sua vida mudada literalmente do dia pra noite. Seu virando de cabeça para baixo.
Mas também ver que para alguns parecia apenas mais uma terça-feira.

O mais interessante é ver que de alguma forma a história sempre se repete, mesmo não sendo no mesmo lugar: uma catástrofe, pessoas querendo respostas, querendo um guia, falta de informação, falta de instrução e interesse dos responsáveis em ajudar e resolver o problema, desinformação e omissão da verdade e o principal: a negação dos fatos.

Nada é diferente, apenas o lugar onde acontece...
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Edu 14/05/2021

Relatos atemporais da humanidade
Não se trata de um livro investigativo sobre os fatos que ocorreram no dia do desastre de chernobyl. Se você procura algo que esmiúce os bastidores do poder que levaram à tragédia radioativa, este não é o livro para isso.

Pelo contrário, ele é ainda melhor e grandioso. Ele busca realmente as vozes de quem foi afetado pela tragédia e foi silenciado por um estado corrupto e um sistema falho.

Mesmo que você não tenha passado perto da guerra ou de nenhuma tragédia conseguimos nos compadecer da dor de quem viveu (e vive) aqueles dias e suas consequências.

Vozes de Tchernobil não é sobre um acidente em usina nuclear, é sobre a dor da perda, sobre a tragédia a pessoal, sobre a falta de esperança. Isso no pertence e nos toca, principalmente nessa época de pandemia mundial.

Estamos mais perto das vítimas de Chernobyl de 1986 do que realmente julgamos. E isso só é possível graças à sensibilidade da autora em construir esses relatos.
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Douglas Finger 23/05/2021

Nobel mais que merecido
Foi uma interessante experiencia ter lido este livro em tempo de COVID-19. A maneira com que as pessoas lidam com a radiacão e o vírus muitas vezes coincidem: existem os negacionistas; os fatalistas; os devotos da ciencia acima de tudo; aqueles que possuem conhecimento mas procuram minimizar para os outros; tem tambem os fieis ao Partido e ao Governo, independente de tudo, etc... muito impressionante o relato das pessoas que moram ainda na Zona de Exclusao. Um livro de grande coragem e veracidade! Leitura recomendada.
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Bi Sagen 09/07/2021

"Como anotar minha alma?"

Em 1986 aconteceria uma das maiores catástrofes mundiais: a explosão de uma usina em Tchernóbil. Milhares de pessoas morreram, outros milhares perderam a saúde e a vida que conheciam, cidades inteiras foram enterradas, e se iniciou um drama que até hoje não conseguem compreender.

Svetlana Aleksievitch jornalista, escritora, e moradora de uma região próxima decide escrever um livro sobre o assunto. Não sobre os fatos em si, mas sobre a interpretação humana daquilo. Na História, entendem seu livro como um registro oral de micro-história.

Ela entrevista moradores que foram embora e os que ficaram, pesquisadores que contaram ao povo o que acontecia e os que se calaram, viúvas de soldados e os soldados, e muitas outras pessoas. Alguns relatos parecem contradizer os outros, mas todos compartilham entre si do sentimento de desamparo e incompreensão do que havia acontecido.

Como contar o tempo, quando os resíduos do desastre durarão milhares de anos? Como compreender a si mesmo e a natureza, sendo que você não enxerga mais o que é perigoso? Como vencer uma guerra que armamento nenhum resolve? Existe punição boa o suficiente para os culpados? Existe um só culpado? E os heróis, como relembrá-los?

As histórias são dolorosas, profundas. E me tiraram lágrimas em diversos momentos. É um precioso registro que nos confronta, e nos faz pensarmos sobre ciência, esperança e a humanidade. Recomendo a todos!
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Mara Vanessa Torres 10/05/2020

Svetlana Aleksiévitch traça um perfil meticuloso e doloroso do maior desastre nuclear da História

Vozes de Tchernóbil é um livro difícil, doloroso, sangrento e necessário. Tive que interromper a leitura diversas vezes, seja para marcar ou anotar alguma passagem interessante ou para respirar fundo antes de continuar. O livro levou mais de uma década para ser escrito e reúne depoimentos de pessoas que sobreviveram ao maior acidente nuclear da história da humanidade, ocorrido em 26 de abril de 1986. Na obra, encontramos viúvas de liquidadores (homens que trabalharam diretamente na Central Atômica e foram contaminados – e mortos – por níveis inimagináveis de radiação), cientistas, soldados, pesquisadores, ex-ocupantes de cargos públicos e camponeses.

Sentados em nossos sofás, camas ou cadeiras, acompanhamos a dor de eternas viúvas devastadas pela morte precoce e horrenda de seus maridos. Nos dois capítulos denominados “Uma solitária voz humana”, conhecemos a história de Liudmila Ignátienko e Valentina T. Apanassiévitch, mulheres que estiveram ao lado de seus maridos quando eles perderam a pele do corpo, vomitaram vísceras e presenciaram a aparência de ser humano ir desaparecendo. Ao passar os olhos pelas palavras reproduzidas por Svetlana, podemos sentir as lágrimas escorrendo do papel; ouvimos os gritos e imaginamos a dor – apenas imaginamos.

No decorrer do livro, conhecemos o relato de mães que perderam seus filhos para a leucemia e outros tipos de câncer; ouvimos sobre a vida de crianças que nasceram com deformidades genéticas que as impedem de urinar, andar, sentir e viver; descobrimos que existem idosos abandonados por suas famílias, pois se recusaram a deixar a zona proibida, e que vivem em meio à solidão e aos animais selvagens; tomamos ciência do massacre de cães e gatos pelos soldados responsáveis por evacuar as cidades contaminadas; também conseguimos ouvir a voz de crianças que perderam suas referências e que nutrem um medo incontido do ar, da terra, da água, da comida e de tudo o que se mexe… Crianças que foram obrigadas a abandonar a infância e sobreviver sem nação ou lar.

São inúmeros relatos, acertadamente chamados pela autora de ‘monólogos’, que nos fazem teorizar e chorar a sorte de milhões de pessoas contaminadas e evacuadas quando uma série de explosões destruiu o reator e o prédio do quarto bloco da Central Atômica de Tchernóbil, localizado próximo à fronteira da Belarús. A antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) desmoronou, levando consigo a utopia política e social que dominou os países do bloco. Enganados por um governo vil, sedento por controle autoritário e manipulação coletiva (como são 99,9% dos governos), homens, mulheres, crianças e animais de estimação foram alimentados com comida contaminada, informações falsas e levados à destruição generalizada.

Com o livro de Svetlana Aleksiévitch, descobrimos que, depois do acidente, as pessoas foram enganadas e levadas a viver com normalidade para “evitar pânico e caos”. A cúpula governamental sacrificou centenas de homens, convocando-os para trabalharem sem nenhuma proteção nas zonas contaminadas e no reator; abateu mulheres, que ficaram sem seus maridos e filhos (a recomendação máxima era que essas mães abortassem seus filhos; caso contrário, teriam que suportar parirem crianças natimortas ou portadoras de mutações genéticas espantosas). O governo desamparou inúmeros idosos camponeses ao retirar suas casas, seus pouquíssimos bens e seu mundo – muitos deles se recusaram a sair da área de contaminação; famílias inteiras foram lançadas para outros países e lugares, atravessando privações e abandono.

Na maioria dos depoimentos, há desencanto total e absoluto. Frases como “sou um homem do meu tempo”, “nós somos soviéticos”, “acreditamos no nosso governo, no nosso partido e nos nossos ideais” fazem coro às associações religiosas com a tragédia, uma espécie de “destino a ser seguido”. O “homem vermelho”, que cresceu acreditando na noção de povo e não de indivíduo, precisou aprender a se reerguer diante de uma calamidade comparada aos piores momentos da história da humanidade.

Tchernóbil é o reflexo de um mundo que falhou e que, 34 anos após o horror nuclear, não aprendeu a lidar com sua ganância, egoísmo e ilusão.



site: https://biblioo.cartacapital.com.br/vozes-de-tchernobil-a-historia-oral-do-desastre-nuclear/
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