Elivelton 17/08/2017
Uma segunda chance.
Leaving Paradise é um daqueles livros que te faz pensar em diversas situações da vida, abordando temas delicados como o alcoolismo e direção e as consequências que essa combinação perigosa pode trazer para a sociedade.
A narrativa que o livro traz é tão intensa que choca com a sua sinceridade de passar ao leitor a dor de vítima de uma imprudência que levou sua vida para caminhos inimagináveis. A autora consegue segurar seus leitores logo no início da narrativa, jogando-nos uma onda de sentimentos conflitantes ao descrever em minúcia as dores, medos, frustrações, perdas e resquícios de esperança que conduzem os personagens da história a seguirem em frente até mesmo nos momentos em que a sombra do passado insiste em pairar sobre eles. A trama do livro nos apresenta a história de Caleb e Maggie, vizinhos e colegas de escola. Maggie por outro lado tem mais presença na vida social de Caleb, uma vez que ela é melhor amiga da irmã gêmea dele. Todavia, a vida dos dois se interliga quando Caleb atropela Maggie.
A partir desse acidente começamos a ver o caminho que cada um levou, ele pagou por seu crime indo para a prisão juvenil, passando lá longos trezentos e dez dias de sua vida, enquanto ela acabou manca e repleta de marcas pela perna, além de ter sua ‘posição social’ arruinada e perder uma importante bolsa de estudos. Após o acidente a vida de nenhum deles é fácil e, intercalando a narrativa sobre o ponto de vista de Maggie e Caleb, de forma que cada um deles é o locutor de um capítulo do livro, mergulhamos em seus traumas e segredos. Por ser uma narrativa compartilhada entre os dois personagens, conhecemos os sentimentos e entendemos a versão de cada um da história.
Caleb retorna a sua cidade natal e o local onde sua vida mudou carregando o fardo de ter cometido um acidente e de levar o título de “ex-detento”, vendo que todos a sua volta o excluem, afinal antes do acontecimento ele era o famoso CB (Caleb Becker). Acompanhamos a dor de um ser humano pagando pelo seu erro e vendo que sua vida nunca mais será a mesma. Já vendo o ponto de vista de Maggie ficamos angustiado por todo sofrimento que ela passou e ainda passa, descobrimos que ela nutria sentimentos por Caleb e como ela se sentiu em saber que ele foi responsável pela mudança inesperada da sua vida, vemos a perversidade humana para com as pessoas com deficiência, pois Maggie é alvejada de olhares e comentários maldosos. Quando eles se reencontram, pensamos que a narrativa vai tomar um caminho puramente romântico, afinal Maggie nutria fortes sentimentos por Caleb, mas o caminho que trama leva com esse encontro é uma relação de ‘necessidade’, de um lado temos Caleb enfrentando seus demônios e a chance de ser perdoado, do outro temos Maggie frustrada e sofrida pelo ocorrido. Porém, eles precisam um do outro (e não no sentido amoroso dessa palavra), pois para seguir em frente eles devem experimentar e viver um perdão mútuo, que envolve principalmente, perdoar a si próprio. Somente o perdão os levará a um recomeço, fator que esperamos durante toda a narrativa: Um novo começo, uma esperança de um final feliz.
Como eu disse, Leaving Paradise é um daqueles livros que no decorrer da leitura de faz pensar a respeito de situações delicadas, como o perdão. A autora consegue com maestria nos envolver em uma narrativa extremamente tocante, ali não escolhemos em um lado para “torcer”, vemos que nem tudo o que achamos realmente é e isso deixa a história mais real. Nada de magia, superpoderes ou superações instantâneas dos problemas, a trama é simplesmente complexa, mas verdadeira.