camille26 29/10/2024
Brutal, violento e consideravelmente desnecessário
é assim que me pego a resumir a obra de Hanya Yanagihara. Apesar de sua estrutura impressionante, as 781 páginas de "Uma Vida Pequena", parecem se perder ao longo de sua condução. Em suma, a composição da obra se porta inegavelmente brilhante - apesar de ser possível tecer críticas quanto a necessidade da brutalidade intrínseca no livro. Apesar disso, a considero uma obra difícil de ser digerida. Perturbadora, ao máximo, a narrativa parece voltar-se cada vez menos para os laços construídos e mais para os indigestos elementos psicológicos que se criam. Com seu início arrastado, pouco cativante, o esdrúxulo desenvolvimento dos personagens, - que parecem permanecer na casa dos vinte, apesar do passar dos anos - constantes flashbacks e descrições detalhadas da ambientação, posicionam "Uma Vida Pequena" na estante dos livros demorados, impacientes, onde a experiência passa do interesse pela história e tornar-se pura determinação de chegar ao fim. Centrada no desenrolar de um ou outro personagem, o leitor não é capaz de perceber a continuidade da narrativa; me parece, de certa perspectiva, que a preocupação em tornar a leitura um repúdio, chocando o leitor, cria personagens e até mesmo uma escrita preto no branco, desvencilhada do potencial de apresentar-se como uma obra coerente. Me vi cerca de 6 meses presa nas amarras de Hanya Yanagihara, sendo perturbada por sua escrita, a qual considero pontualmente impressionante - não à toa, selecionei durante a leitura diversas páginas e parágrafos para reler após certo tempo. Entretanto, foram necessárias longas pausas para não ser apavorada pela determinação da autora em construir um livro obsceno quanto perturbador. Me pego pensando na utilidade do quantitativo de cenas que reviram o estômago e mexem com o psicológico de um simples leitor. O leitor se vê tentando compreender o que se passa entre um flashback e o tempo presente, além das súbitas e implícitas mudanças de narrador - que dificulta a experiência literária como um todo. Não se esclarece, afinal, quem comunica e o que comunica, a intencionalidade das impurezas de "Uma Vida Pequena". Quanto ao final, me surpreende a capacidade de perder-se completamente na proposta construída e elaborada ao decorrer da narrativa; contendo um ou até mesmo dois "plots" inesperados, a obra se encerra de maneira medíocre e, de certa forma, previsível. Talvez eu mesma não me veja preparada para lidar com os desconfortos da arte, ou apenas não consiga compreender a intencionalidade desta em específico, mas talvez tenha sido capturada de surpresa pelos intensos gatilhos presentes no livro; apesar de abordar a amizade, o amor e as relações entre os personagens, "Uma Vida Pequena" contém excessivos tópicos desconcertantes - como violência física e psicológica, abuso sexual, pedofilia, automutilação, suicídio, transtornos alimentares e uso de substâncias ilícita - que, muitas vezes, se colocam desnecessariamente na história. Com isso, não se pode negar a criatividade da autora e a importância do épico na literatura, por outro lado, encerro-me questionando sobre o tempo perdido lendo algo desagregado do que acredito ser possível com a arte literária.