Priscilla 15/02/2022
muito bom
O livro, baseado na psicologia de Jung e escrito por uma mulher, retrata a importância da imagem da "prostituta sagrada" para reequilibrar o inconsciente e o consciente de homens e mulheres na sociedade patriarcal em que vivemos.
Segundo a autora, "o termo 'prostituta sagrada' representa um paradoxo para a nossa mente lógica, pois não estamos propensos a associar o sexual com o que é consagrado aos deuses" (p. 16).
De fato, a mera leitura do título do livro me trazia estranhamento, no começo. Parece uma contradição em termos se referir a uma prostituta que seja sagrada, como se sexo fosse sujo e o sagrado fosse intocável e puro. Essa ideia encontra fundamento na ideologia cristã e no inconsciente coletivo conformado por esses ideias há tantos séculos. A leitura, portanto, traz uma nova perspectiva para olhar e entender a sexualidade.
A prostituta sagrada é a deusa do amor, que pode ser identificada como Afrodite, Vênus ou outras deusas que eram veneradas e ritualizadas na Antiguidade. A ideia cristã de ver a mulher em dois polos opostos: Virgem (Santa) ou Prostituta (Maria Madalena) estimula o afastamento do arquétipo da prostituta sagrada, que relaciona sexualidade e espiritualidade com o objetivo de integra-las.
Falando sobre a assunção do patriarcalismo em detrimento das sociedades matriarcais, a autora afirma: "Tendo deixado de ser vista como dádiva do divino, a sensualidade da mulher passou a ser rebaixada e explorada. Deixou de haver uma imagem do feminino divino" (p. 55). Com a assunção da Igreja, "o maior dos méritos era negar a natureza humana e abster-se de tudo o que fosse fonte de prazer (p. 56) (...) consequentemente, um abismo entre corpo e espiritualidade foi mantido nos ensinamentos religiosos (p. 59).
Entrar em contato com a prostituta sagrada, no aspecto do inconsciente, p.ex., por meio de sonhos, significa integrar o aspecto dinâmico do feminino (relacionado ao prazer, sensualidade, criatividade, paixão) e o aspecto estático do feminino (maternidade, segurança, conservadora, protetora). Enfatizar somente um desses polos pode gerar promiscuidade ou abstinência, ambas situações que trazem desequilíbrios internos e externos, nas relações entre homens e mulheres.
Para os homens, integrar a deusa do amor em seu inconsciente significa valorizar o feminino interno e externo, o que permite uma relação afetiva equilibrada, com uma mulher real, e não com as projeções de uma esposa-mãe.
Para as mulheres, entrar em contato com a deusa do amor significa aceitar seu aspecto sensual, sexual e dinâmico, em conjunto com o aspecto maternal e casto, sem exclusão de quaisquer dos polos, o que permite uma integridade e, em consequência, um relacionamento mais equilibrado com o masculino, sem intenção de manipular, p.ex, assim como um comportamento mais seguro, assertivo, sem submissão, sem medo de incomodar, de se sentir inferiorizada e sem competição com os homens.
Ressalta a importância de olhar a sexualidade sob as lentes da espiritualidade, do sagrado, do natural e não sob a ideia do profano, errado, sujo, repressivo. A partir disso, será possível participar do ato sexual com uma dimensão espiritual e transcendente.