Stella F.. 17/10/2022
Vale boas risadas!
O Avarento – Molière – L&PM Editora – 2018
No século XVI “coube a Molière o papel de Pai da Comédia – um gênero até então tido como menor e que, por sua pena, se alçaria ao patamar de obra artística e literária.” (pg. 2)
Na introdução dessa obra Dorothée de Bruchard, vai nos apresentar Molière, sua história de vida e falar um pouco de sua obra. E foi muito interessante conhecê-lo um pouco, já que conhecia o autor por ouvir falar de suas peças encenadas no cenário do teatro, mas nunca havia lido nada dele. E gostei.
A obra do autor abarca os anos de 1655 a 1673 entr3e comédias, farsas e comédias-balé sendo mais de trinta peças. Molière foi chefe de trupe, diretor teatral e ator. Muitas vezes o autor utilizou aspectos físicos e problemas de saúde próprios ou de conhecidos na descrição de seus personagens, além de muitas vezes atuar em suas próprias peças.
“Arguto observador da sociedade de seu tempo, ousou retratar, com um misto de fineza e crueza, os falsos valores que, sustentados pela hipocrisia, permeiam as relações humanas e sociais. Atento observador da alma humana, legou à posteridade um elenco de personagens [..] que encarnam arquetipicamente mazelas nossas universais.” (pg. 3)
Molière nasceu em Paris a 15 de janeiro de 1622, estudou em um colégio dirigido por jesuítas e depois formou-se em Direito em Orléans, abandonando a profissão e a empresa familiar. Se dedicou ao teatro, onde adotou o nome Molière, nunca explicado por ele.
Montou uma companhia de teatro, depois teve vários mecenas e ao final optou por criar enredos originais, com seus próprios textos, não mais imitando os outros, como era comum na época, tendo inspiração nos italianos, que eram os seus rivais naturais da Commedia dell’arte. O seu jeito de escrever contribui para que a comédia adquirisse o status de gênero literário.
Molière casou-se com Armande Béjart, em 1662, jovem atriz da companhia com quem teve três filhos e somente uma filha sobreviveu. Foi infeliz e teve muitos detratores ao longo da vida. Criou o que se chama Metateatro, levando seu próprio público a refletir sobre a recepção de sua obra. Além disso, o autor criou um novo gênero, a comédia-balé.
Em 1673 ao estrear a sua última peça “O Doente Imaginário”, acaba falecendo com 51 anos.
Somos apresentados aos personagens principais: Harpagão, o velho sovina; Elisa, sua filha apaixonada por Valério, Cleonte, seu filho, apaixonado por Mariana. E aqui começa toda a confusão!
Harpagão resolve que quer se casar com Mariana, sem dote, mas não sabe que seu filho é apaixonado por ela e nem tem ideia de que Valério, seu “empregado” é o amor de sua filha. Valério entrou na casa como empregado, para ficar mais perto e conhecer o funcionamento da casa, e bajular Harpagão para tentar conseguir a mão de Elisa mais facilmente. Mas o pai já tinha um pretendente para a filha, o Sr. Anselmo.
Mas nada sai certo! É uma confusão geral.
Harpagão gosta muito mais de dinheiro do que dos seus próprios filhos. É obcecado, esconde dinheiro em casa, faz mil e umas falcatruas e está sempre achando que está sendo passado para trás, que todos o querem roubar, inclusive desconfia de si próprio. Paga mal os empregados, há um controle total do que comem e bebem, os próprios cavalos não são ferrados, para não se gastar dinheiro. Os empregados acumulam cargos, trocando de função de acordo com a necessidade.
“Cleanto - Quem, na sua opinião, é mais criminoso: quem comprar um dinheiro de que está precisado, ou quem rouba um dinheiro que não lhe faz falta?” (pg. 60)
“Harpagão – Deus do Céu! Em quem se pode confiar hoje em dia? Não dá para pôr a mão no fogo por mais ninguém. Acho que, depois dessa, até eu era capaz de roubar a mim mesmo.” (pg. 133)
Quando se veem nessa situação meio sem volta, tentam armar para cima do pai, para reverter a situação a favor deles, e contratam a mesma mulher, Frosina, que o pai já havia contratado antes, para passar a perna nele. Essa senhora vive desses pequenos golpes. Onde ela levar a melhor, estará.
Temos situações bem engraçadas, e dei boas risadas.
Ainda temos um puxa-saco muito divertido, o Mestre Tiago, que tem as funções de cozinheiro e cocheiro da casa de Harpagão e tem ciúmes da influência de Valério junto ao patrão. Quando ocorre um roubo, de propósito, pelo Flecha, lacaio de Cleanto, temos uma cena impagável entre Harpagão, Valério e Mestre Tiago.
A peça foi encenada pela primeira vez em 1668.