Francine 17/05/2016...como estamos alimentando os demônios uns dos outros?Eu já conhecia o talento da Natália Mussato, mas 'uau'. Não estava preparada para um enredo tão anticonvencional e provocativo. Devorei-o com o deleite de quem sabe que peca, mas não consegue parar.
Narrado em terceira pessoa, Diabólicos apresenta Hiro, um professor que está sob acompanhamento psiquiátrico por determinação legal. Ele não quer ser atendido por uma profissional que definitivamente não o entende, mas é obrigado a comparecer às sessões por ter se envolvido no suicídio de uma aluna. Entre ir para a cadeia e enfrentar uma psiquiatra que pensa ser capaz de mudá-lo, é óbvia qual foi a sua escolha.
No entanto, Hiro realmente precisa de tratamento. Ele possui algo dentro de si, encoberto nas sombras, que é difícil manter sob controle. Seu demônio interior gosta de causar dor. Aprecia o sangue, o sofrimento, as lágrimas, o desespero. Sua psiquiatra deu-lhe um rótulo: Hiro é um sádico.
Por outro lado, conhecemos Erina. Todos os dias, Erina sofre violência. É brutalmente espancada, maltratada, ignorada ou humilhada pelos seus pais. Ela se acostumou à dor, mas seus pensamentos estão cada vez mais sombrios. Sempre que seus pais agridem um ao outro, o demônio dentro dela sorri. Ela o sente agitar e sacudir as jaulas da sua consciência. Tem medo do que poderia fazer se, um dia, seu demônio se libertar.
Quis o destino (ou o sadismo da autora) colocar ambos os personagens no mesmo contexto. Hiro, o professor; Erina, a aluna. Duas personalidades perturbadas, que acabam se completando de um jeito assustador. Erina é a vítima perfeita: silenciosa, solitária, de pouca confiança... O demônio de Hiro quer machucá-la. Mas Erina não é apenas uma frágil vítima. A dor e o sofrimento lhe são amigas íntimas. Seu corpo pode sangrar e enfraquecer, mas seu demônio está cada vez mais forte. A maldade dela é alimentada pelo sadismo de Hiro.
Ele, o mentor; ela, a discípula; e nós, as testemunhas. Vemos que, juntos, Hiro e Erina são diabólicos. Seu relacionamento se desenvolve e provoca mudanças nas vidas das pessoas à sua volta. Será possível pará-los?
Uau. Acho que Natália Mussato conseguiu desenvolver um enredo que convida a refletir sobre quão profundamente a violência pode nos atingir. Em 50 páginas, deu fundamento às atitudes dos personagens de tal modo que podemos compreendê-los em suas fragilidades. Um destaque que apreciei, por exemplo, foi a ênfase ao passado da mãe de Erina, que não conseguiu realmente assumir a maternidade como deveria.
O desfecho foi, de certo modo, previsível, o que não o tornou menos aguardado. Eu adorei, realmente, todo o belo trabalho da autora. No decorrer da narrativa, ela incluiu definições etimológicas de palavras-chave que alimentaram seu tom tenso. É uma novela excelente, que recomendo para quem deseja ler algo diferente, de gênero horror/suspense psicológico, com uma narrativa fluída e uma mensagem de impacto.
Para mim, o que fica de Diabólicos é... como estamos alimentando os demônios uns dos outros?
A capa é maravilhosa, bastante representativa, e a diagramação está ótima! Algumas falhas na revisão podem ser flagradas, mas não afetam a boa leitura. Com certeza, recomendo para vocês.
Resenha postada no blog My Queen Side [acesse e veja quotes e mais informações sobre o e-book]:
site:
http://www.myqueenside.com.br/2016/05/resenha-146-diabolicos.html