Coisas de Mineira 19/10/2020
O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias é, com certeza, um marco literário. Após anos de seu lançamento, a “trilogia composta por 05 volumes” continua servindo como forte referência para a cultura pop. É muito provável que você já tenha se deparado com várias citações e acontecimentos da história e talvez nem se dê conta disso.
E o que ela traz de tão especial?! Bom, ela inova ao ser uma sátira sensacional dentro do gênero da ficção científica. Acredito que seja uma das histórias mais engraçadas que eu já pude ler. É aquele tipo de texto em que surge algo cômico quando você menos espera, que te faz passar vergonha em púbico com risadas explosivas.
Na história temos Arthur Dent, um inglês pacato e comum que certo dia tem que lidar com um grande problema: sua casa precisa ser demolida para a construção de uma estrada. Enquanto ele está lá manifestando contra a obra, surge seu amigo Ford Prefect com uma notícia mais do que inesperada. Ford diz pra ele deixar aquele protesto de lado, pois A TERRA será destruída em alguns minutos por estar no meio do caminho da construção de uma ESTRADA ESPACIAL.
Essa é a primeira grande ironia e sacada da história. E a partir daí segue sem limites! Arthur descobre que na verdade Ford é um alienígena camuflado. Ele está há 15 anos na Terra estudando o verbete deste planeta para incluir no Guia dos Mochileiros da Galáxia.
Esse é um guia de viagens espaciais de sucesso, contendo a amigável frase “NÃO ENTRE EM PÂNICO” na capa em letras garrafais. E na verdade, o nome de seu amigo nem é Ford Prefect. Ele apenas escolheu os dois nomes mais comuns do planeta para usar assim que chegou.
Sendo assim, juntamente com Ford, Arthur irá embarcar clandestinamente em uma nave espacial e assim escapar da destruição da Terra. Consequentemente irá participar de grandes aventuras espaciais, além de conhecer diversas raças e planetas.
Tudo isso narrado com um humor criativo e crítico, mas muito crítico mesmo. Será tarde demais quando você se der conta que o grande alvo de todo o sarro tirado pela história somos nós mesmos, a nossa sociedade.
Somos lembrados de como é comum os humanos falarem sempre o óbvio, somos classificados como a terceira espécie “mais pensante da Terra”, ficando atrás dos ratos e golfinhos, além de diversas críticas políticas, científicas e filosóficas. Um dos personagens sensacionais que aparecem é Marvin, o androide paranoide.
Ainda que tenha sido criado com um QI altíssimo, é utilizado apenas para desempenhar atividades banais e abaixo de suas habilidades. Isso que faz com que ele desenvolva uma personalidade bastante depressiva. Marvin inspirou a música Paranoid Android da banda Radiohead.
Douglas Adams criou uma história exemplar, e a prova disso é como encontramos referências a ela até hoje, mesmo que tenha sido publicada entre 1979 e 1992. Por exemplo, o Peixe Babel, utilizado como uma forma de traduzir vários idiomas intergalácticos, que acabou sendo o nome da ferramenta de tradução do site Yahoo!; Ou ainda a resposta “da vida, do universo e de tudo mais” que se você jogar no Google encontrará a resposta do livro (mas cuidado, isso pode ser um spoiler. Ou não… Não sei mais definir se tratando de algo tão disseminado na cultura pop).
Por falar em algo bem disseminado, provavelmente você já ouviu falar do Dia da Toalha, ou já viu alguma referência de toalha ao Guia do Mochileiro das Galáxias. Douglas Adams define a toalha como um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar, e explica isso com um texto hilário (pra variar).
"A toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático. […] Porém o mais importante é o imenso valor psicológico da toalha. […] O que o estrito (não-mochileiro) vai pensar é que, se um sujeito é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda assim saber onde está a sua toalha, esse sujeito claramente merece respeito."
O autor faleceu jovem, aos 49 anos, de uma forma bem coerente com sua forma de escrita, se me permitem dizer. Por ironia do destino, Adams começou a fazer atividade física por recomendações médicas, mas teve uma parada cardíaca durante um dos exercícios. O Dia da Toalha, comemorado em 25 de maio (mesmo data do Dia do Orgulho Nerd, que se refere a Star Wars) foi criado como uma forma de homenagear o autor.
A história de Guia do Mochileiro das Galáxias foi criado por Adams quando estava bêbado em uma viagem à Europa, com dificuldades de comunicação e contando apenas com um guia europeu embaixo do braço. Inicialmente o autor a fez para um formato de rádio, estilo podcast, mas devido ao sucesso acabou virando a “trilogia de 5” que conhecemos hoje.
Por isso, um alerta, não fique preocupado se sentir que não está entendendo nada da história, ou está perdido nos acontecimentos. Isso é normal devido a sua característica de “esquetes”. Não se prenda a esse detalhe, apenas aproveite.
A Editora Arqueiro lançou uma nova edição única e de luxo de O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias , contendo os 5 livros da série, que está encantadora! Eu recebi deles o e-book, que foi por onde fiz a releitura, mas já estou doida pelo físico com o famoso “Não Entre em Pânico” em destaque. É tudo aquilo que todo fã precisava.
Sendo assim, espero que todos tenham a oportunidade de se aventurar pelo “Guia do Mochileiro”! É uma história icônica que merece um lugarzinho na sua lista de leituras. E adianto, você vai entender muito mais referências atuais depois dessa experiência. Existe um filme, lançado em 2005, que inclusive teve a participação do autor no roteiro. Olha, não é sensacional, mas se você é adepto às adaptações, já dá pra começar.
Por: Karina Rodrigues
Site: www.coisasdemineira.com/o-guia-definitivo-do-mochileiro-das-galaxias-douglas-adams-resenha/