Michele Soares 20/07/2021
Uma felicidade gratuita
Lindo conto! Também um bocado inquietante. Nele acompanhamos Serguei Vassílitch ou Nikítin um jovem ? e bastante sonhador ? professor de língua e literatura russa rumo ao que aparenta ser a concretização perfeita e vitoriosa da sua
felicidade.
Uma notinha para as descrições cênicas do amigo Tchekhov:
"Eram quase sete horas da noite ? hora em que a acácia branca e o lilás exalam um aroma tão forte que o ar é mesmo as árvores parecem se retrair diante dessse perfume. No jardim público, a música já havia começado. Os cavalos batiam os cascos na calçada com estrépito; de todo lado, ouviam-se risos, vozes, o estalar dos portões. [...] Que calor ameno, que aspecto suave tinham as nuvens disseminadas em desordem pelo céu, assim como as dóceis e acolhedoras sombras e choupos de acácias ? sombras que se estendiam sobre toda a larga rua e arremataram as casas do outro lado, até as sacadas do segundo andar!
Deixaram a cidade para trás e seguiram a trote pela estrada principal. Ali já não sentia o cheiro das acácias e dos lilases, não se ouvia música, mas o aroma da terra se fazia sentir, vicejavam o centeio e o trigo novos, os ratos do campo guinchar, as gralhas soltavam grunhidos. Para onde quer que se olhasse, tudo verdejava, apenas aqui e ali despontava a cor negra de um meloal e ao longe, à esquerda, em um cemitério, se via a faixa branca de macieiras sem flores."