spoiler visualizarJeanderson.Oliveira 05/10/2019
O comissário Maigret mais uma vez adentra a alma humana, ao mergulhar de cabeça para elucidar a tentativa de homicídio contra François Keller, um antigo médico, ora mendigo, enquanto este dormia embaixo da Pont Marie, Paris.
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Para desvendar o crime, ele vai se impregnando da vida da vítima ao mergulhar no universo interior de um médico tomado por excêntrico que despreza as coisas mundanas simbolizadas na vacuidade de sua esposa. Keller antes de tornar-se um mendicante vivia parte do tempo dedicado aos seus doentes, ao ponto de desprezar-se totalmente, chegando a descuidar aparência física. Desse chamado, parte para África, onde se decepciona com o que vê e de retorno ao seu país vai morar embaixo da ponte, para mim um são Francisco moderno, em vez de gozar e usufruir das riquezas herdadas por sua família.
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Ao descobrir que o barqueiro Jef Van Houtte, tentando silenciar a única testemunha que o vira matar o próprio patrão e sogro para assumir seu comando do navio, desferiu um golpe na cabeça do nosso mendigo que dormia e o atira nas águas do Sena, Maigret não descansa na tentativa de enjaular o autor da violência. Porém os fatos não estão a favor do comissário, restando o seu último recurso na palavra da vítima sobrevivente, mas sem sucesso.
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O livro de trama bastante simples se agiganta ao final. A vítima confiada na justiça divina permanece silente diante do seu algoz no momento da acareação, como ?os que não temiam dormir debaixo de uma ponte, em pleno inverno, enrolados em jornais velhos para se manterem quentes, Keller não deu a mínima para aquela justiça (dos homens) ?. Sua confiança estava alicerçada na promessa da bem-aventurança nos céus para os pobres, e assim ele oferece-lhe o perdão em vez do julgamento, cumprindo estritamente na prática o conselho do Cristo para que sejamos misericordiosos, como Deus o é para conosco, e sobretudo de não condenarmos, para também assim não o sermos, e perdoarmos para sermos perdoados na mesma medida.