Rafa569 16/03/2024
#07: A guerra não tem rosto de mulher - Svetlana Aleksiévitch
Um livro escrito por uma mulher, composto por inúmeros relatos de mulheres soviéticas que de alguma forma combateram na Grande Guerra Patriótica (como a Segunda Guerra Mundial era chamada na URSS). A ideia do livro de Svetlana foi rechaçada por homens que julgavam desnecessários os relatos femininos ou que tais relatos não enalteciam a Vitória e trouxesse à tona os meandros menos gloriosos, os detalhes que todos querem esconder sobre a guerra. Até mesmo os maridos não encorajavam ou procuravam calar suas esposas, por serem relatos "emocionados" demais.
São quase 400 páginas com relatos de mulheres soldados, franco-atiradoras, tenentes, enfermeiras, médicas, lavadeiras, cozinheiras, sapadoras, partisans, membras da resistência soviética à invasão alemã, entre outras. Eu não sou um estudioso da Segunda Guerra, muito menos dos relatos soviéticos, apesar de saber que os EUA dominam a narrativa de serem os grandes vitoriosos que derrotaram o nazifascismo, deixando de lado a grande contribuição da URSS, por serem comunistas, como ficaria explícito na posterior Guerra Fria.
Fica expresso em cada relato a dor da perda, o desespero das torturas e as contradições, como por exemplo um soldado soviético ser condenado à morte após ter conseguido escapar vivo da prisão alemã, pois havia um entendimento de que "não há prisioneiros, há traidores", e quem fosse feito prisioneiro deveria se matar, além do julgamento moral das mulheres que foram para o front, lutar pela pátria, e a controversa figura de Stálin.
"Na guerra cada um sonhava com uma coisa: um com voltar para casa, outro com chegar a Berlim, e eu só pensava em viver até o dia do meu aniversário, em completar dezoito anos." p. 248
"Passaram seis meses... E, por causa da sobrecarga, deixamos de ser mulheres... Se transformou, a nossa... Perdemos nosso ciclo biológico... Dá pra entender? Foi terrível. Era terrível pensar que você nunca mais vai ser mulher..." p.251