Flávia Menezes 01/08/2023
??BORN IN THE U.S.A.
?Uma breve história dos Estados Unidos?, do historiador e escritor James West Davidson, foi lançada em setembro de 2015, e é mais uma das obras didáticas e sobre a história americana desse autor que recebeu seu Ph.D. nesse assunto pela Universidade de Yale, e que certamente é alguém que sabe contar uma história sobre dados e fatos como ninguém!
Quantas vezes, durante a época do colégio, não ficamos entediados com os relatos dos livros de história, cujas narrativas maçantes nos faziam apenas pensar em terminar logo a sua leitura, só para poder fazer algo muito mais interessante a seguir? Quem nunca, não é mesmo?
Mas o fato que eu quero mesmo trazer aqui, é que a escrita de James West Davidson é muito diferente de tudo o que eu já li até agora de livros de história como esse. Ele vai além dos fatos, e a forma como o autor descreve é de uma riqueza de percepções que nos faz ver tudo por tantos ângulos, que mais parece que ele é uma testemunha ocular de tudo o que esse país viveu, de sua descoberta, colonização, até os tempos atuais (na verdade, ele vai até a aclamada vitória de Barack Obama, ressaltando a importância do primeiro homem negro a ocupar o maior cargo de um país.).
?Nas Américas, algumas dessas sementes, sem que ninguém percebesse, caíam, eram levadas pelo vento e então germinavam e se disseminavam. Dentes-de-leão e erva-de-febra são hoje comuns nos campos americanos; ambos vieram da Europa depois de 1492.?
É belo como nos primeiros capítulos Davidson explora a questão de toda a paisagem que os povos vindos de diversos países do Velho Mundo se depararam, e como haverá um fechamento perfeito com o que o historiador irá abordar nos últimos capítulos.
De fato, tudo neste livro está perfeitamente interligado, e conforme vamos avançando, cada capítulo, cada assunto, vai fazendo sentido não apenas porque se trata de fatos da história de um país, mas porque a vida é assim: cada passo que damos no passado irá interferir nos passos daqueles que virão depois de nós.
Sem contar que a escrita do Davidson é altamente poética, e o que ele tenta mostrar nestas páginas que voam com muita facilidade, é como esse povo foi formado em sua essência, para se transformar em quem hoje eles são. E o respeito com que ele (Davidson) o faz, direciona o nosso olhar para cada colonizador, cada povo indígena que lá já estava, e cada Pai Fundador com o mesmo respeito por quem foram, e por tudo o que fizeram em prol de uma nação nova, que a cada passo que dava, ia se tornando cada vez mais forte.
?Fazer história vivendo-a ? agir ? requer saber de onde você vem, pois o passado deu forma a cada um de nós. Portanto, ainda que não escrevamos história, nós reunimos histórias sobre quem somos, as coisas em que acreditamos e os princípios que valorizamos. Por mais estranho que possa parecer, para avançar é preciso olhar para trás.?
E Davidson tem toda a razão ao dizer isso. Não somos independentes (e nem indiferentes) a tudo o que nos precedeu. Mas sim, a soma de tudo o que já passaram os nossos antepassados. E por isso que contar a história de um povo, é também contar a história de cada um que nasce (e que ainda irá nascer) nessa nação.
Talvez agora você se pergunte: ?Mas por que eu, que sou brasileiro(a), deveria ler sobre a história de um outro povo?? E de fato, você não está errado em se questionar sobre isso. Mas como não somos ilhas, e vivemos em um mundo onde não somos afetados apenas pela nossa cultura, mas a de outros países (principalmente pela cultura norte-americana), quando nos debruçamos sobre essa história nos enriquecemos ainda mais de um jeito mais ativo, e não passivo só recebendo o que vem dos filmes, músicas, seriados ou livros sem conhecer os significados e história por trás de cada um.
Passamos a conhecer a raiz de tudo aquilo que se mescla a nossa realidade, entendendo a sua essência, e é aí que respeitamos a verdade por trás do outro, tanto quanto vamos aprendendo como devemos falar da nossa própria essência com a mesma verdade e o mesmo respeito. E como isso incita em nós em sermos mais condescendentes com a história do outro, sem julgamentos, rejeições e exclusões. O mundo seria um lugar muito melhor se fizéssemos mais isso, ao invés de impor a nossa verdade sobre o outro!
Ler esse livro foi uma experiência prazerosa, que não só me enriqueceu em termos de fatos históricos, mas em compreender como essa cultura se deu em sua essência. E foram tantas as partes que me encantaram (e até emocionaram!). Como no caso da história de um garimpeiro chamado Sam Clemens, com a qual encerro essa resenha, com um trecho que foi para mim um dos mais especiais (e quem me conhece, saberá bem por quê!):
?Quanto a Sam Clemens, ele acabou por enriquecer ? mas só mudando de emprego. O garimpeiro fracassado começou a escrever sobre suas aventuras usando o pseudônimo de Mark Twain. Ele voltou para o leste e criou o livro mais celebrado da literatura norte-americana, ?As Aventuras de Huckleberry Finn?.?