Luiz Pereira Júnior 13/01/2023
Passado presente
Mais um dos livros que estavam na lista de espera e que tiveram a leitura antecipada para que eu pudesse depois assistir ao filme (no caso, a série). Bem, alguns acham que é melhor ver o filme e depois compará-lo ao livro; outros preferem o contrário - e eu me incluo entre estes. Simples questão de preferência e nada mais.
Primeiro é preciso dizer que, frequentemente, toda leitura parece sempre remeter a algo que já lemos ou que já vimos. Umberto Eco foi um dos mestres ao escrever sobre isso em “A angústia da influência”. E isso é o que acontece em “A Catedral do Mar”, de Ildefonso Falcones.
Ao narrar as a longa trajetória que leva da extrema pobreza e dos enormes sofrimentos à nobreza e aos ricos palácios, mesclado a uma ampla crítica social e às descrições (nem sempre pormenorizadas) dos costumes de uma determinada época, o livro de Falcones nos remete a grandes obras (“O Conde de Monte Cristo” e “Os miseráveis” foram as que me vieram à mente em vários trechos da leitura).
E isso não desmerece o romance. Ao contar a história (desde a origem miserável, no sentido real da palavra) de um jovem carregador de pedras para a construção de uma catedral em honra à Virgem Maria até a sua ascensão como um dos mais importantes e ricos nobres de sua região (e posterior queda e posterior ascensão), o autor consegue nos fazer viajar no tempo e no espaço, e também conhecer mais sobre o horror que o ser humano é capaz de causar a seus semelhantes.
Em que pese o maniqueísmo (exemplificando: um das amadas do protagonista é tão idealizada que por vezes parece que é personagem de outra obra; a outra parece ser o arquétipo da morena sensual, que é capaz de enlouquecer os homens com um simples olhar oblíquo, mas sem a inteligência de Capitu e a esposa do protagonista parece seguir as convenções da nobre vilã cruel) e o acúmulo de nomes e títulos que pouco acrescentam à narrativa (mas necessários para aqueles que querem compreender melhor o contexto social e histórico da época), “A Catedral do Mar” é um romance histórico que nada deixa a dever para os seus congêneres, enfim.
Vale a pena? Com certeza (mas a preço comum, e não o valor de obra rara que estão cobrando em certos sites). Se você gosta de história, tramas, peripécias, medievalismo, costumes religiosos, busca do poder, conflitos humanos, esse é um livro para você. Não vi a série ainda, mas posso dizer “A Catedral do Mar” é daqueles livros que parecem já vir prontos para a tela (e, é claro, facilmente visualizados em nossa mente durante as horas que passarmos esquecidos do mundo ao nosso redor durante sua leitura).