Benigno_Lê 31/10/2024
O livro conta a história da viagem de Dante (que é bem interessante, porque é o autor escrevendo uma história em que é o personagem principal, tipo uma fanfic adolescente sksksksk) pelos ambientes possíveis de se estar no pós vida. O livro é dividido em três partes: inferno, purgatório e céu, que são justamente os locais, em sequência, pelos quais Dante passa.
O livro original é uma coleção de cantos, que são todos poemas. Neste livro que li, cada canto é um capítulo em forma de prosa.
Dante mostra um lado da cultura europeia da época, um homem com influências culturais da igreja católica e também das culturas romana e grega. Seu livro cria um mundo ficcional que tem como base as mitologias cristã e clássica, uma mistura bastante interessante.
Além disso, Dante aproveita para fazer várias críticas à política de Florença, sua terra natal, e da Itália (que ainda não era um Estado ainda, se não me engano, não sei exatamente ao que era referido como Itália). O autor também criticava a Igreja, vários papas e organizações cristãs, como ordens religiosas, franciscanos, por exemplo. Inclusive, a ideia de que no passado a cidade de Florença era melhor, que naquele momento ela era cheia de corrupção e pessoas avarentas nos mostra que esse tipo de pensamento não é moderno, muito pelo contrário.
Dante também aproveita sua passagem pelo além túmulo para fazer perguntas para os mortos e para os seres celestes. As perguntas que ele faz para Beatriz, sua guia do paraíso, marcam questionamentos e verdades da época, ideias essas muito influenciadas pelo pensamento de Aristóteles, por exemplo. A ideia da divisão do mundo sublunar e supralunar é evidente, onde o primeiro é imperfeito e o último é perfeito e imutável. Inclusive, Dante pergunta à Beatriz o motivo de a lua possuir manchas, o que me remete às ideias clássicas de que a lua deveria ser sem defeitos, pois é celeste. Entretanto, Beatriz responde que são diferentes "virtudes" que geram as manchas (não sei o que seriam essas virtudes, não sei no que exatamente Dante acreditava, talvez essas virtudes seriam luzes divinas que variariam de intensidade em diferentes partes da lua, ou talvez tipos diferentes de materiais na lua). Essa parte é bem legal, porque Dante discute com Beatriz sobre esse tema e ela sugere experimentos físicos que contrapõem os argumentos de Dante de forma acurada, até que ela mostre a "verdadeira" causa das manchas na lua.
O inferno e o purgatório são mais fáceis de ler, já o paraíso é mais difícil (e em parte mais chato, porque tem mais críticas e citações de acontecimentos e famílias da Itália e de Florença), porque possui discussões filosóficas e o ambiente é muito mais abstrato que nos demais locais, que ainda são sublunares.
De modo geral, é uma leitura bem legal, mas um tanto difícil; mostra bem aspectos da visão da época da religião, da cosmologia, da política.