Bruno.Rafael 22/03/2020Foi o primeiro e já começou bem!A Máquina do Tempo é o primeiro romance de H. G. Wells e conta a história de viagem no tempo do denominado “Viajante do tempo”. É assim que o personagem central é chamado durante todo o enredo. O livro começa um tanto clichê para os tempos atuais, mas na época certamente era novidade, tanto que o autor é considerado um dos pioneiros da ficção científica para certos temas desse gênero.
Os narradores da história alternam entre o amigo do Viajante e o próprio Viajante, onde ele relata as suas aventuras em um futuro longínquo. Nesse futuro, é aí que entra singularidades que deixam a história de Wells original. Ele vai além do futuro tecnológico (na verdade, a viagem foi tão longa para o futuro que essa era tecnológica ficou para trás e surgiu uma nova era) tão retratado pelos livros e filmes contemporâneos e nos descreve um futuro alternativo a essa ideia, onde há duas populações distintas, os Elois que vivem na superfície, e os Morlocks que vivem no subterrâneo. Chegando lá o Viajante conhece, estuda e reflete as mudanças que ocorreram no mundo como um todo, social e ambiental. Em alguns trechos do livro, Wells faz pequenos ensaios sobre as transformações ocorridas e que culminaram naquele novo mundo. Então, a história passa a ter uma visão que vai além da ficção científica e entra várias vezes no âmbito do estudo sociológico, tanto é, que é feita várias referências sobre o capitalismo e socialismo, proletariado e elitismo, o modo de vida do século de Wells, até chegar a hipóteses de o resultado daquele mundo do futuro ser consequências dessas inferições sociais/políticas. Além de ser Viajante do tempo, o protagonista é um pensador!
Outra marca bem presente é a influência da Teoria da Evolução de Charles Darwin no contexto futurístico da história. É inegável que H. G. Wells foi um entusiasta das ideias de Darwin, e chega até a citar o nome de um dos filhos dele. E ele usa a evolução para moldar as criaturas do futuro, os Elois e os Morlocks, ao mesmo tempo que levanta questionamentos sobre o nosso futuro e a nossa capacidade intelectual como seres humanos.
Ademais, o Viajante do tempo conta sua vivência e aventuras vividas no futuro e no final há mais um pouco de história que revela um final inesperado. E as últimas palavras do livro antes do epílogo são de uma grande sensibilidade emocional. Faltou um pouco de brilho em certos momentos para ser considerada de excelência, mas como primeiro romance do autor, foi muito boa.